A atuação anticíclica das instituições financeiras de desenvolvimento na crise do Covid-19
Instituições financeiras de desenvolvimento (IFD) de vários países adotaram medidas para mitigar os efeitos negativos causados pela pandemia do novo Coronavírus, com foco na área de saúde e no fornecimento de liquidez para as empresas, visando a continuidade dos negócios, dos projetos de investimento e a manutenção de empregos.
As IFDs, especialmente os bancos de desenvolvimento (BD) nacionais, têm um papel anticíclico importante em meio a crises internacionais. Em situações de alta instabilidade macroeconômica, o crédito se torna mais caro, escasso e concentrado, exatamente quando mecanismos de refinanciamento e de apoio financeiro são mais necessários. Nesses momentos de maior incerteza e redução dos financiamentos privados, os BDs podem garantir a oferta do crédito, estabilizando o mercado financeiro.
Veja a seguir as medidas anunciadas pelas principais IFDs nacionais, multilaterais e regionais para enfrentamento da crise.
BNDES (Brasil)
- Disponibilização de até R$ 2 bilhões para financiamento à ampliação imediata de leitos e da oferta de equipamentos e materiais médicos e hospitalares.
- Expansão em R$ 5 bilhões da linha Crédito Pequenas Empresas, para financiamento de capital de giro a MPMEs.
- Matchfunding Salvando Vidas – o BNDES irá dobrar o valor das contribuições da sociedade civil e de empresas, destinando até R$ 50 milhões para aquisição de material, insumos e equipamentos de proteção para profissionais de saúde de hospitais filantrópicos.
- Operacionalização de financiamentos de até R$ 40 bilhões para folha de pagamento de funcionários de pequenas e médias empresas (R$ 34 bilhões oriundos do Tesouro Nacional e R$ 6 bilhões de bancos de varejo).
- Aporte de até R$ 4 bilhões em fundos de créditos a MPMEs.
- Transferência de R$ 20 bilhões do PIS-Pasep para o FGTS, para viabilizar o saque dos recursos por trabalhadores.
- Garantias: o Programa Emergencial de Acesso ao Crédito irá oferecer garantias aos agentes financeiros em empréstimos para PMEs até 31 de dezembro de 2020, por meio do BNDES FGI.
- Suspensão de pagamentos das parcelas de financiamentos por até seis meses.
AFD (França)
- Cooperação internacional – COVID-19 – Health in Common: € 1,2 bilhão para apoio a sistemas de saúde e a iniciativas de recuperação da crise em países em desenvolvimento, principalmente na África.
Bpifrance (França)
- Financiamentos diretos de até € 10 milhões para pequenas e médias empresas e de até € 30 milhões para grandes empresas, sem exigência de garantias e longos períodos de carência.
- Garantias: o banco assume até 90% dos riscos dos novos financiamentos indiretos.
- Redução nas taxas de juros, ampliação de prazos e suspensão de pagamento das parcelas.
Business Development Bank of Canada – BDC (Canadá)
- Canada Emergency Business Account: empréstimos de até US$ 40 mil para pequenas empresas sem fins lucrativos, com taxas de juros zeradas até 31 de dezembro de 2022.
- BDCCo-Lending Program: financiamentos de até US$ 6 milhões para capital de giro a pequenas e médias empresas (80% do BDC e 20% da instituição financeira parceira).
- BDC Oil and Gas Sector Financing: empréstimos de até US$ 60 milhões para capital de giro e continuidade dos projetos de investimentos, com prazo de pagamento de quatro anos.
- Garantias: o banco assume até 80% dos riscos dos novos financiamentos.
Cassa Depositi e Prestiti – CDP (Itália)
- Recursos para capital de giro: € 4 bilhões para financiamentos indiretos a pequenas e médias empresas e € 2 bilhões para financiamentos diretos a médias e grandes empresas.
- COVID-19 Social Response Bond: € 1 bilhão para investimentos nas áreas de educação, moradia social e sustentabilidade ambiental e energética.
- Garantias: o banco assume até 80% dos riscos dos novos empréstimos.
China Development Bank – CDB (China)
- Disponibilização de US$ 5 bilhões para medidas emergenciais na área da saúde com foco em construção de hospitais, produção de materiais para proteção individual, compra de equipamentos e produção de remédios.
- Disponibilização de US$ 25 bilhões voltados para capital de giro, manutenção de empregos e projetos de investimento em andamento.
- Redução nas taxas de juros, ampliação de prazos e suspensão de pagamento das parcelas.
- Financiamentos de mais de US$ 50 bilhões (realizados desde o início de 2020), incluindo as medidas anticíclicas e outros projetos de longo prazo.
- Cooperação internacional: apoio a programas emergenciais para enfrentar a pandemia em países em desenvolvimento, principalmente na área de saúde, mas também suporte a medidas de recuperação econômica para micro, pequenas e médias empresas.
KfW (Alemanha)
- Programa Especial 2020 e Empréstimo Instantâneo: aumento dos financiamentos indiretos para capital de giro e investimentos para empresas de todos os portes.
- Financiamentos diretos de até € 25 milhões, assumindo até 80% dos riscos em empréstimos sindicalizados.
- Financiamentos diretos e indiretos com taxas de juros reduzidas, prazos ampliados e suspensão de pagamento das parcelas.
- Aumento das garantias, assumindo 80% dos riscos em relação às grandes empresas e 90%, no caso de pequenas.
- Funding de € 100 bilhões garantido até o fim de 2021 para arcar com a demanda por financiamentos.
- Cooperação internacional: apoio a programas emergenciais para enfrentar a pandemia em países em desenvolvimento, principalmente na área de saúde, mas também suporte a medidas de recuperação econômica para micro, pequenas e médias empresas.
Banco Interamericano de Desenvolvimento – BID (América Latina e Caribe)
- Disponibilização de US$ 12 bilhões em 2020 para área de saúde, proteção das parcelas mais vulneráveis das populações, capital de giro e continuidade de negócios de pequenas e médias empresas, visando a manutenção de empregos.
Banco Mundial (atuação global)
- Disponibilização de US$ 160 bilhões nos próximos 15 meses a cem países em desenvolvimento, para área de saúde, proteção das parcelas mais vulneráveis das populações, capital de giro e continuidade de negócios das empresas, visando a manutenção de empregos.
Asian Development Bank – ADB (Ásia e Pacífico)
- Oferta de US$ 20 bilhões aos países em desenvolvimento da região, para área de saúde, proteção das parcelas mais vulneráveis das populações, capital de giro e continuidade de negócios das empresas, visando a manutenção de empregos.
Banco Centroamericano de Integração Econômica – BCIE (América Latina e Caribe)
- Recursos de até US$ 1 bilhão para apoiar a gestão de liquidez dos bancos centrais.
- Disponibilização de US$ 600 milhões para operações do setor público.
- Oferta de US$ 350 milhões em financiamentos a capital de giro e continuidade dos negócios das pequenas e médias empresas.
- Destinação de US$ 8 milhões em recursos não reembolsáveis para proteção aos mais vulneráveis.
- Disponibilização de US$ 2 milhões para compra e produção de materiais e equipamentos para a área de saúde.
CAF (América Latina)
- Oferta de US$ 2,5 bilhões para apoiar capital de giro e continuidade de negócios das empresas, visando a manutenção de empregos.
- Destinação de até US$ 400 mil de recursos de cooperação técnica não reembolsáveis por país.
- Linha de crédito contingente de até US$ 50 milhões por país voltada para os sistemas públicos de saúde e a proteção dos mais vulneráveis.
European Investment Bank – EIB (União Europeia)
- Oferta de € 40 bilhões para apoiar capital de giro e continuidade de negócios de pequenas e médias empresas, visando a manutenção de empregos.
- Disponibilização de € 25 bilhões em garantias, que pretendem alavancar empréstimos totais da ordem € 200 bilhões, para empresas de vários portes e iniciativas na área de saúde.
New Development Bank – NDB (BRICS)
- Oferta de aproximadamente US$ 1 bilhão para a China, para a área de saúde (primeira medida emergencial da instituição).
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