O setor de saúde brasileiro no combate ao Covid-19
Os desafios impostos pela pandemia aos sistemas de saúde e as medidas que podem ser adotadas para o combate ao coronavírus no Brasil foram debatidos por especialistas da área de saúde, em uma live promovida pelo BNDES nesta quarta, dia 6 de maio. A conversa, transmitida pelo YouTube do Banco, contou com participações do coordenador de ações de prospecção da Fiocruz, Carlos Gadelha, do diretor-adjunto da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), Jarbas Barbosa, e com o presidente do Fórum Inovação Saúde, Josier Vilar.
A live foi mediada pelo chefe do Departamento do Complexo Industrial e de Serviços de Saúde do Banco, João Paulo Pieroni. Ele abriu o encontro citando os dados mais recentes da pandemia, que chegou a um total de 3,6 milhões de casos confirmados no mundo e contabiliza 114 mil registros e quase 8 mil mortes no Brasil (em 6 de maio de 2019). Para além dos impactos na saúde, Pieroni destacou que a Covid-19 deve produzir este ano a pior crise econômica desde 1929.
Qual é a situação atual da pandemia no Brasil?
O mundo vive atualmente diferentes situações em relação à pandemia, segundo Jarbas Barbosa, da Opas. Há países que já passaram pela crise e começam a planejar uma transição, reabrindo gradualmente setores da economia, e outros que ainda vivem um período de aceleração da transmissão. O Brasil e os demais países da América Latina fazem parte desse segundo grupo, alerta.
“Nenhum sistema de saúde do mundo tem condições para atender o número de quadros graves que é produzido pela doença. Se a gente deixa transmissão seguir com a curva natural, sem nenhum tipo de freio, os sistemas de saúde vão ficar sobrecarregados”. Ele lembra o que ocorreu em cidades como Nova Iorque, nos EUA, e Guayaquil, no Equador.
Barbosa destaca que estamos em um momento crítico no Brasil e que as medidas tomadas agora poderão levar a uma evolução mais controlada da doença ou a uma crise aguda no sistema de saúde. Ele cita a importância de aumentar o número de testes PCR para cortar o caminho de transmissão do vírus, informando que a Opas tem usado um mecanismo de compra regional para fornecer esses testes a diversos países, incluindo o Brasil.
O presidente do Fórum Inovação Saúde, Josier Vilar, acrescenta que dos 6,5 mil hospitais do país – entre públicos, privados e filantrópicos –, apenas 20% têm capacidade de receber pacientes com alta complexidade de cuidados, como é o caso dos infectados pelo Covid-19. Ele cita dados da cidade do Rio de Janeiro para exemplificar a situação vivida em quase todo o país, onde não há capacidade para atender a um grande número de casos simultâneos.
Vilar registra ainda que, mesmo conseguindo recursos para adequar toda a infraestrutura de atendimento, não haveria profissionais de saúde suficientes para atender todos os pacientes. “O nosso apagão principal é de leitos, mas nós não temos profissionais de saúde especializados em terapia intensiva para tratar a população”, diz. Nesse contexto, ele reforça a necessidade de manter o isolamento social e as medidas preventivas contra o contágio.
Medidas emergenciais e aprendizados do combate ao coronavírus
Segundo Pieroni, o BNDES tem desempenhado papel fundamental para minimizar os efeitos econômicos da pandemia, mas também vem atuando especificamente no tema da saúde. O programa de financiamento para ampliação de leitos de emergência e produção de equipamentos médico-hospitalates, lançado pelo Banco em curto prazo, já tem operações contratadas e vem contribuindo para ampliar a capacidade de atendimento dos hospitais, conta ele.
Além disso, o Banco ajudou a construir a iniciativa Matchfunding Salvando Vidas, que está arrecadando doações para a compra de equipamentos individuais de proteção (EPI) para os profissionais de saúde que atuam em hospitais filantrópicos. Pieroni esclarece que o BNDES dobrará o valor captado junto a doadores e empresas, até um total de R$ 100 milhões.
Como possível solução para a questão dos leitos, os participantes falaram também sobre a adoção de fila única no atendimento hospitalar. Pieroni explica que a medida consistiria em utilizar também os hospitais da rede privada, que em alguns casos ainda têm leitos disponíveis, para atender os pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS), estabelecendo uma fila única de entrada.
“É moralmente aceitável que a gente disponibilize os leitos que não estão sendo usados, mas tem que ser feito por meio de contrato entre os hospitais privados e o sistema público”, afirma Josier Vilar. Ele pondera que a fila única pode levar a um desarranjo do setor privado se for implementada sem contratualização. Mesmo assim, lembra que em cidades como Manaus (AM) e Belém (PA) não há mais leitos disponíveis na rede pública, nem em hospitais privados.
Para Carlos Gadelha, da Fiocruz, um dos formuladores do conceito de complexo econômico da saúde, é fundamental pensar o setor de forma integrada. Ele afirma que o próprio coronavírus comprovou isso. “Tem que mobilizar testes-diagnósticos, ventiladores, novas vacinas e ao mesmo tem que organizar os serviços, a atenção básica. Ter todo um sistema de terapia intensivo. Se uma peça do sistema falha, ele desaba. Isso mostra que a gente tem que trabalhar do ponto de vista sistêmico”, conclui.
Nesse contexto, ele destaca que é preciso investir no setor para reduzir o grau de dependência produtiva e tecnológica do país. A saúde é um mercado imperfeito, explica, no qual não é possível substituir facilmente produtos e serviços em função de preço. Gadelha menciona a dificuldade atual de importação dos respiradores usados no tratamento do Covid-19 como exemplo, lembrando que “uma das quatro empresas nacionais que produzem ventiladores só existe por causa do BNDES”, por meio do apoio do Fundo Criatec (link).
A importância do SUS e da conscientização da população
Todos os participantes destacam a importância do SUS para que o Brasil possa lidar com a pandemia e garantir o acesso da população ao atendimento de saúde. “Sistemas universais como o SUS são a melhor resposta para o desenvolvimento de um país”, diz Jarbas Vasconcelos, ainda que seja preciso lidar com dificuldades já existentes, como o sub-financiamento, a falta de plataformas regionais e de integração do sistema. Gadelha acrescenta que, onde a atenção básica em saúde já estava organizada, os resultados no combate ao coronavírus foram muito melhores.
Um outro aprendizado importante, segundo Vilar (Fórum Inovação Saúde), é que a comunicação e os esforços contra a pandemia precisam estar alinhados, de forma que a população esteja consciente das medidas que precisam ser tomadas. “Nós temos que ficar em casa. Isto é a visão moral e racional para proteger uma vida social e a própria retomada da economia em um momento posterior”, completa Gadelha.
Assista ao vídeo completo da live
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