Negócios de impacto: empreendedorismo que transforma
O que são negócios de impacto?
Negócios de impacto são empreendimentos que têm o objetivo de gerar impacto socioambiental e resultado financeiro positivo de forma sustentável, conforme definição da Estratégia Nacional de Investimentos e Negócios de Impacto – Enimpacto (Decreto 9.977/19). Uma característica essencial que diferencia os negócios de impacto é a intencionalidade, ou seja, o negócio precisa ter a intenção e o objetivo claro de gerar impacto socioambiental positivo.
O infográfico a seguir mostra os principais aspectos que definem os negócios de impacto (clique para ampliar):
Fonte: Aliança pelo Impacto. Disponível em: https://aliancapeloimpacto.org.br/wp-content/uploads/2020/03/ice-estudo-negocios-de-impacto-2019-web.pdf
O Mapa de Negócios de Impacto, lançado periodicamente pela Pipe.Social, procura identificar as características e tendências desse tipo de negócio no Brasil, a partir de pesquisa voluntária realizada com o ecossistema. Em sua terceira edição, lançada este ano, o mapeamento analisou um total de 1.272 negócios de impacto operacionais no Brasil, localizados principalmente na região Sudeste (58%). A pesquisa mostrou que a maior parte deles ainda é recente (60% tem até cinco anos de existência) e está nos estágios iniciais de desenvolvimento (80% encontram-se entre as etapas de desenvolvimento da solução e de organização do negócio), mas esse mercado vem evoluindo.
A comparação de resultados dos últimos anos (edições de 2017, 2019 e 2021) mostra que os negócios de impacto ampliaram sua presença na região Nordeste e estão migrando da fase de ideação para as fases de desenvolvimento e teste das soluções, com um aumento também no percentual de negócios que já captaram investimentos ou doação.
Com isso, muitas aceleradoras e startups têm se voltado para o tema de impacto. A intensificação dos esforços para o alcance os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030 e o próprio surgimento da pandemia de Covid-19 no ano passado são fatores que têm impulsionado os negócios na busca por impacto socioambiental.
Em sintonia com essa tendência, o BNDES estruturou uma nova edição do Programa BNDES Garagem com foco na aceleração de startups de impacto, contemplando cinco vertentes: govtech, sustentabilidade, cidades sustentáveis, saúde e educação. A chamada para seleção das startups será lançada durante a Semana BNDES de Impacto, de 5 a 9 de julho.
Como medir e avaliar os resultados de negócios de impacto?
Considerando que a avalição de resultados está entre as características que diferenciam os negócios de impacto, é preciso refletir sobre as melhores formas de medir esses resultados. No artigo Avaliação de impacto social, Lazzarini e Barki argumentam que “mais importante do que comprovar um determinado impacto é obter informações úteis que permitam aprimorar os modelos de negócios e as intervenções propostas”. Por isso, destacam que, ao decidir por uma métrica ou metodologia de mensuração, é preciso considerar algumas questões, como: (i) quais são os usos da avaliação de impacto; (ii) qual é o momento do negócio; e (iii) quais são os recursos disponíveis para avaliar o impacto.
Há um conjunto de metodologias que podem ser utilizadas para medir o impacto desse tipo de negócio, incluindo técnicas quantitativas e qualitativas. Um método comumente utilizado é, com base na Teoria da Mudança, estruturar um conjunto de indicadores de performance (KPIs) relacionados aos resultados esperados da intervenção.
Porém, nem sempre é fácil identificar se os resultados encontrados podem ser atribuídos exclusivamente ao negócio de impacto, já que outros fatores também podem contribuir para mudanças na realidade do público. Se o intuito é avaliar o potencial de adicionalidade do empreendimento, é importante trabalhar com metodologias que comparam os resultados obtidos entre um grupo tratado e um grupo de controle (que represente o que teria acontecido sem a existência do projeto), ou ainda que analisem os indicadores do público beneficiado em relação a indicadores gerais de uma região ou mesmo do país. O Guia de Avaliação de Impacto Socioambiental, do Insper, traz mais informações sobre o tema.
Já metodologias qualitativas, como entrevistas em profundidade ou grupos focais, podem ajudar a analisar a percepção do próprio público-alvo sobre os impactos gerados. Embora mais subjetivo, esse tipo de avaliação pode gerar insights sobre o projeto que, muitas vezes, não aparecem nas métricas quantitativas. Seja qual for o método escolhido, a mensuração e a avaliação dos resultados contribuem tanto para melhorar a gestão do empreendimento quanto para atrair investidores e parceiros para os negócios de impacto.
Financiamento e fomento aos negócios de impacto no Brasil
Para fomentar o mercado de negócios de impacto e de conectar os diversos atores nele envolvidos, em 2014, foi criada a Força Tarefa de Finanças Sociais (FTFS), composta por representantes de vários segmentos da sociedade brasileira engajados no avanço desse ecossistema. Este grupo foi responsável por iniciar a construção da Carta de Princípios para Negócios de Impacto no Brasil.
A carta buscou conceituar e parametrizar os negócios de impacto, possibilitando a construção de um diálogo qualificado sobre as oportunidades e os desafios do setor, a mitigação de eventuais desvantagens competitivas e a potencialização dos atributos únicos desse tipo de empreendimento em relação aos negócios tradicionais já estabelecidos.
Outra iniciativa importante para o fortalecimento do ecossistema de impacto foi o lançamento em 2017, por parte do Governo Federal, da Estratégia Nacional de Investimentos e Negócios de Impacto (Enimpacto), atualmente coordenada pela Subsecretaria de Inovação do Ministério da Economia (SIN/ME). A estratégia busca ampliar a oferta de capital para esse tipo de negócio, fomentar a sua disseminação e promover um ambiente institucional e normativo favorável ao seu desenvolvimento, entre outros objetivos.
Recentemente, a Aliança pelo Impacto (atual nome da FTFS) apresentou um estudo com nove recomendações para o avanço dos investimentos e negócios de impacto até 2025, a saber:
- Promover iniciativas estruturantes que alavanquem a jornada de empreendedores(as) de impacto (redes, plataformas de formação e conexão, e condições para replicação de boas práticas).
- Fortalecer coalizações locais comprometidas em articular organizações, redes e políticas públicas para a agenda de investimentos e negócios de impacto.
- Ampliar e qualificar a discussão sobre a monetização dos impactos socioambientais para todo o mercado, propondo o teste e a análise das metodologias disponíveis.
- Disseminar a visão de portfólio com produtos comprometidos em entregar impacto socioambiental positivo para acelerar a oferta desses produtos.
- Criar laboratórios de inovação, linhas de crédito e redes de intraempreendedores(as) para fomento à inovação e impacto em torno de problemas socioambientais estruturantes do país.
- Ampliar e fortalecer organizações que deem apoio a negócios de impacto em periferias rurais e urbanas, viabilizando formações, mentorias, acesso a recursos financeiros, a redes de mercado e a conhecimento.
- Criar teses de impacto ambiental positivo que incluam indicadores e boas práticas, as quais possam servir como referência para empreendedores(as), investidores(as), gestores(as) de fundos e organizações de apoio a negócios.
- Aproximar o ecossistema de negócios de impacto de redes e expertises de tecnologia para processo de influência cruzada (a tecnologia escalar os negócios e seu impacto, e a agenda de impacto influenciar o desenvolvimento de tecnologias).
- Coconstruir narrativas que aproximem públicos de interesse à causa dos investimentos e de negócios de impacto, garantindo a criação de uma linha de base (metas e indicadores de partida) que permita o monitoramento coletivo de resultados de comunicação.
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