Financiamento amplo às empresas: crédito bancário, mercado de capitais e setor externo
Grandes transformações vêm ocorrendo no mercado de crédito brasileiro. O sistema público foi bastante utilizado no ambiente pós-crise financeira internacional de 2008 e a atuação das instituições financeiras oficiais foi fundamental para evitar uma contração ainda mais aguda da liquidez doméstica. No entanto, a posterior desaceleração e a forte contração da atividade econômica no biênio 2015-2016, associada à crise fiscal em curso, trouxeram questionamentos sobre a atuação do sistema público de crédito via direcionamento de recursos.
A reorientação atual dos bancos oficiais, em geral, e do BNDES, em particular, tem por objetivo reduzir o diferencial relativo entre os custos de mercado e do direcionamento de crédito. A existência de novas fontes de financiamento de longo prazo, nesse contexto, passa a ser vital.
Financiamento de longo prazo
O BNDES ainda é, de longe, a maior fonte de funding de longo prazo para projetos de investimentos no Brasil. Algo como 45% das operações de financiamento a vencer acima de cinco anos estão na carteira de crédito do Banco. Ao se adicionarem os outros dois grandes bancos oficiais nessa estatística – Banco do Brasil (BB) e Caixa Econômica Federal (CEF) – chega-se a 82,7% da carteira de crédito da economia com prazo de vencimento acima de cinco anos.
Fonte: Elaboração própria, com base em BCB
O Brasil é um país com enormes necessidades de investimentos, o que torna fundamental que haja esforços para ampliar o máximo possível as fontes de financiamento de longo prazo, a fim de alavancar as potencialidades do país. O somatório de forças e a busca de sinergia por meio de complementaridade entre o sistema de crédito – privado e público –, recursos externos e os mercados de capitais tornam-se condições essenciais para a retomada do investimento e do crescimento econômico.
O Texto para discussão 137 – Financiamento amplo às empresas: crédito bancário, mercado de capitais e setor externo, de Leticia Magalhães e Gilberto Borça Jr., busca analisar o conceito de financiamento ampliado às empresas. Tal conceito abrange a evolução das dívidas corporativas no Brasil em sua integralidade, o que permite analisar o volume de financiamento às companhias de maneira mais completa. Considera-se, assim, não apenas o crédito proveniente do sistema bancário tradicional, mas também as operações de mercado de capitais e as operações via setor externo.
O fluxo de financiamento amplo às empresas
Enquanto as operações de crédito corporativo via sistema financeiro nacional (SFN) mostram, desde 2015, contração em termos reais, explicada, em maior medida, pelo desempenho do BNDES, a incorporação de recursos advindos do mercado de capitais doméstico e do setor externo tende a modificar esse panorama no período mais recente.
Fonte: Elaboração própria, com base em dados BCB para SFN e mercado externo e Anbima para mercado de capitais.
Ao longo de 2018, com a retomada mesmo que gradual da economia e queda da inadimplência, já foi possível verificar uma melhora nas concessões de crédito para as empresas. Em 2017, o fluxo total de concessões como percentual do PIB havia encerrado o ano em 28,9%, 11,2 p.p. inferior ao do ano de 2012. O número para o 3T/2018 já era de 32,3%. Essa melhora ocorreu em todas as dimensões, mercado bancário doméstico, mercado externo e mercado de capitais.
Contudo, ao analisar a participação de cada modalidade nas concessões totais, constata-se que o mercado de crédito bancário vem perdendo espaço, mesmo tendo avançado ao longo de 2018. Em 2012, o SFN era responsável por 87,6% do fluxo de crédito, enquanto o setor externo e o mercado de capitais representavam 5,9% e 6,6% respectivamente. Já no 3T/2018, a participação do SFN reduziu-se mais de 15 p.p., passando para 72,3%. Por sua vez, o setor externo passou de 5,9% em 2012 para 18,6% até setembro de 2018, e o mercado de capitais de 6,6% para 9,1%.
Baixe aqui o Texto para discussão 137 – Financiamento amplo às empresas: crédito bancário, mercado de capitais e setor externo, de Leticia Magalhães e Gilberto Borça Jr.
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