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Blog do Desenvolvimento

Etanol 2G: inovação em biocombustíveis

Os biocombustíveis estão presentes na matriz energética brasileira há mais de 80 anos. Desde a década de 1970, o país vem sendo protagonista em pesquisa e desenvolvimento tecnológico voltado à produção de etanol de cana-de-açúcar.

No início da década passada, com a introdução dos veículos flex, o consumo de etanol no Brasil cresceu de forma acelerada, refletindo em um aumento de produção da ordem de 100%, que hoje atinge quase 30 bilhões de litros por ano. Nos EUA, a produção do biocombustível também atingiu elevado crescimento, baseado no etanol produzido a partir de milho, representando mais de 55 bilhões de litros anuais atualmente. Juntos, Brasil e EUA são responsáveis por mais de 80% da produção mundial.

Nos últimos anos, porém, o etanol vem enfrentando dificuldades para ampliar sua participação como fonte de energia em escala global, por questões inerentes ao próprio mercado, sobretudo em função da queda dos preços dos combustíveis derivados do petróleo.

Ao mesmo tempo, a indústria ainda enfrenta temores ligados aos impactos e limitações da produção em larga escala de biocombustíveis. Entre os principais, o suposto dilema entre a produção de biocombustíveis e de alimentos tem motivado  discussões sobre a imposição de restrições ao uso de biocombustíveis produzidos a partir de matérias-primas alimentares.

Contudo, é preciso salientar que, no caso do Brasil, essa polêmica pode ser afastada, uma vez que a área cultivada de cana-de-açúcar para produção de etanol ocupa menos de 5 milhões de hectares, apenas 2% da área total dedicada ao setor agropecuário, atualmente em quase 230 milhões, dos quais, quase 170 milhões destinados à pecuária

Com a introdução do etanol de 2ª geração (E2G), que após longo período de pesquisa e desenvolvimento finalmente atingiu a escala de plantas industriais, espera-se ampliação do consumo mundial de etanol, haja vista o maior nível de aceitação do E2G entre diversos países. Esse reconhecimento se deve, sobretudo, à capacidade do E2G em evitar emissões de CO2 e ,à utilização de resíduos agrícolas como fonte de matéria-prima. Do ponto de vista da oferta, é esperada a entrada de novos países produtores e exportadores no mercado , na medida em que qualquer país com resíduos agrícolas ou florestais poderá produzir o E2G, o que deve contribuir para a criação de um mercado global.

 

imagem de empilhamento da palha da cana-de-açúcar para produção de etanol 2g

 

Veja a seguir as principais razões que justificam a aposta no etanol de 2ª geração para ampliar a participação dos biocombustíveis como fonte de energia ao redor do mundo.

Aumento de produtividade e competitividade

Estudos apontam que a adoção da tecnologia tem a capacidade de elevar a produção do combustível limpo em até 50%, minimizando a necessidade de ampliação das áreas agrícolas para produção de matéria-prima. Com a evolução tecnológica, os custos de produção do E2G serão gradativamente reduzidos, permitindo que seja competitivo mesmo com valor do barril de petróleo próximo de US$ 40. Segundo a Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD), o Brasil tem capacidade para produzir, até 2025, 10 bilhões de litros de E2G.

Vantagem logística

As matérias-primas do processo de geração do E2G são subprodutos ou coprodutos do processo convencional de produção do combustível. No caso do Brasil, esses insumos estão disponíveis na própria unidade de produção, após o processamento da cana-de-açúcar pela tecnologia de primeira geração.

Baixas emissões de gases de efeito estufa

Além de ser uma fonte de energia renovável, o etanol 1G de cana-de-açúcar é considerado um combustível limpo, com emissão de CO2 pelo menos 60% inferior à gasolina, o que contribui para mitigar o efeito estufa na atmosfera. Segundo estudo do Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol (CTBE), o E2G será ainda mais limpo, com capacidade de reduzir as emissões de CO2 da gasolina em 90%.

Aproveitamento de subprodutos e coprodutos da produção tradicional

No caso da cana-de-açúcar, a palha e o bagaço armazenam a maior parte, ou cerca de 2/3, do potencial energético da cana-de-açúcar. A utilização desses subprodutos do processo convencional na produção do E2G, permite explorar todo o potencial energético desses insumos, fortalecendo a relação de custo-benefício para o produtor. O mesmo ocorre para todas as cadeias agroindustriais que dispõem de excedentes de biomassa, como por exemplo: papel e celulose, soja, milho, trigo, dentre outras.

 

usina de produção de etanol 2g

 

Possibilidade de produção na entressafra e na escassez de áreas de plantio

Ao contrário da cana-de-açúcar, que deve ser processada após a colheita, os resíduos agrícolas resultantes da produção do etanol de primeira geração (E1G) podem ser armazenados e utilizados posteriormente, em períodos de entressafra, quando as usinas estão ociosas. Esses novos insumos podem também viabilizar a produção de etanol em regiões e países com escassez ou inadequação de áreas para o cultivo da cana.

Integração com o E1G de cana-de-açúcar

Assim como o E1G, o E2G também é obtido a partir do processamento da cana-de-açúcar, o que oferece diversas possibilidades de ganhos de integração na produção combinada de E1G/E2G. A integração permite ganhos de sinergia e compartilhamento de equipamentos e utilidades, o que melhora a competitividade do setor como um todo.

Protagonismo do Brasil

Como ocorreu com o E1G, o país continua na vanguarda da pesquisa e desenvolvimento do E2G e é considerado uma das grandes lideranças no domínio dessa tecnologia. Das seis usinas, em todo o mundo, que atualmente produzem etanol de 2ª geração em escala comercial, duas estão localizadas no Brasil e pertencem a empresas brasileiras.

Interesse internacional

Pelo fato de resíduos agrícolas estarem disponíveis na maior parte do Mundo e por evitar eventuais polêmicas envolvendo a produção de alimentos, diversos países tem demonstrado elevado interesse no desenvolvimento e consumo do E2G. Por essa razão, durante a COP-22, foi lançada a Plataforma para o Biofuturo, iniciativa de 20 países, liderados pelo Brasil,  que buscam, entre outros objetivos, ampliar a colaboração internacional e acelerar o desenvolvimento do E2G em escala mundial.

 

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