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Blog do Desenvolvimento

15:56 11/05/2022

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Estudo analisa os benefícios da tecnologia para a educação de qualidade e os desafios para sua adoção no Brasil

Na perspectiva do desenvolvimento sustentável, a educação é tema central. Ações de disseminação do uso de tecnologia para fins pedagógicos nas redes públicas de ensino fazem parte do conjunto de iniciativas que buscam contribuir para a educação inclusiva e equitativa de qualidade e para a promoção de oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todas as pessoas.

 

As evidências da literatura indicam que, em média, a tecnologia tem impacto positivo sobre as práticas educacionais, embora esse efeito varie conforme a tecnologia associada e outros fatores relacionados ao processo pedagógico, bem como em relação à forma de implementação e às realidades locais. Além disso, a infraestrutura tecnológica parece ser mais efetiva quando sua oferta é acompanhada de estratégias complementares, como o oferecimento de recursos educacionais digitais, o fomento de competências digitais e o planejamento para o uso complementar de outras práticas.

 

Edtechs

 

Na década de 1980, foram dados os primeiros passos das iniciativas de inserção das tecnologias da informação e da comunicação (TIC) na educação básica do Brasil e de diversos outros países (ALMEIDA; VALENTE, 2016). Passadas quatro décadas, persistem os dilemas a respeito dessa apropriação nos processos de ensino e aprendizagem.

 

Ainda que não exista consenso a respeito de por que, como e para que utilizá-las de modo a melhorar a qualidade da educação, de acordo com estudo do Banco Mundial, nos últimos anos o debate em relação ao uso da tecnologia na educação está mudando de “se” para “como” deve ser implementado. A tendência passa a ser, então, a de enxergar diferentes motivações, finalidades e formas desse uso. Quanto ao acesso, a tecnologia deve ser oferecida de modo que reduza a desigualdade digital e contribua para que todos os alunos tenham assegurado o direito à escola em um sentido amplo, em qualquer lugar e a qualquer hora, incorporando o conceito de ensino híbrido. Quanto às habilidades, o uso das TIC deve ter como objetivo não apenas apoiar o ensino e melhorar a aprendizagem como aumentar a motivação dos alunos e promover o desenvolvimento de habilidades socioemocionais e digitais, cada vez mais relevantes e necessárias.

 

Essa mudança de perspectiva foi fortalecida com a interrupção das aulas presenciais em todo o mundo em função da pandemia de Covid-19, que tornou o uso da tecnologia crucial para viabilizar as aulas virtuais ou em regime híbrido.

 

Estudos demonstram que há diversas iniciativas para a implementação da tecnologia em sala de aula com resultados positivos, ainda que o impacto possa variar de acordo com os diferentes contextos e formas de implementação. Na realidade continental do Brasil, considerando suas desigualdades socioeconômicas e diversidades regionais, o desafio de garantir a efetividade das iniciativas de uso de tecnologia nas escolas torna-se ainda mais contundente (BANCO MUNDIAL 2020).

 

A infraestrutura tecnológica e de conectividade das escolas brasileiras

 

Um diagnóstico da infraestrutura tecnológica e de conectividade passa por uma análise do padrão de uso da tecnologia nas escolas. Para avaliar a desigualdade do acesso à tecnologia e à conectividade, foram analisadas três variáveis representativas da infraestrutura tecnológica e de conectividade: disponibilidade de computadores portáteis para os alunos, internet utilizada na aprendizagem e internet de banda larga.

 

A partir dos dados do Censo Escolar de 2020, é possível afirmar que o acesso médio à tecnologia e à conectividade ainda é baixo no Brasil. Do total de escolas do país, 46% dispunham de desktops para uso dos alunos, enquanto apenas 34% contavam com laboratório de informática. Quanto ao uso móvel, a situação é ainda pior: 27% das escolas contavam com computador portátil para uso dos alunos e apenas 10% tinham tablets para esse fim.

 

A situação da conectividade também é crítica. Embora 80% das escolas tivessem acesso à internet, apenas 66% dispunham de banda larga. Em relação ao uso, 47% das escolas ofereciam internet para aprendizagem e somente 31% para uso dos alunos. De acordo com o relatório TIC Educação 2019, a dificuldade de acesso à internet pelos alunos pode ser explicada também pela baixa qualidade da conexão, especialmente nas escolas públicas. Apesar da melhora nas faixas de velocidade de conexão nessas escolas, especialmente na faixa de 11 Mbps ou mais, em todas as regiões administrativas do país a média de velocidade de conexão ainda está abaixo da recomendada pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE).

 

Se, por um lado, o país apresenta uma carência de acesso à internet de banda larga e a equipamentos ao se considerar o total de escolas, por outro, esse acesso ocorre de forma bastante desigual. Essa constatação é crítica, uma vez que a qualidade do ensino deve pressupor equidade e oportunidades iguais.

 

Infraestrutura por esfera administrativa

 

No que diz respeito à esfera administrativa, tanto em relação ao acesso à internet quanto à banda larga, observa-se uma presença maior dessa infraestrutura nas escolas federais, seguidas das privadas, estaduais e, por último, das escolas municipais. Contudo, em relação ao uso da internet na aprendizagem, observamos uma proporção maior de uso pelas escolas estaduais do que pelas escolas privadas, conforme gráfico abaixo.

 

Grafico1

Fonte: elaboração própria com base nos dados do Censo Escolar 2020 do Inep.

 

Infraestrutura por região

 

Quanto à localização, observa-se maior acesso à infraestrutura de tecnologia e conectividade, considerando as três variáveis analisadas, entre as escolas situadas nas regiões Sul, Centro-Oeste e Sudeste do que naquelas localizadas nas regiões Norte e Nordeste. Essas desigualdades são compatíveis com as já tão conhecidas discrepâncias econômicas e sociais entre as regiões brasileiras.

 

Grafico2

Fonte: elaboração própria com base nos dados do Censo Escolar 2020 do Inep.

 

Infraestrutura por localização

 

Por fim, a disponibilidade de tecnologia e conectividade, nas três variáveis consideradas, é muito menor em áreas rurais do que nas urbanas. De acordo com o TIC Educação 2019, isso se deve à falta de oferta de conexão em alguns lugares ou ao seu custo elevado, situação observada não só nas escolas, mas na comunidade como um todo. Além disso, de acordo com a pesquisa, os gestores dessas escolas apresentaram preocupação em resolver questões mais prioritárias, como infraestrutura de luz e de água e esgoto, cuja deficiência é mais comumente observada nas áreas rurais, além de dar atenção também à manutenção dos equipamentos existentes e à expansão dos espaços.

 

Grafico3

Fonte: elaboração própria com base nos dados do Censo Escolar 2020 do Inep.

 

Multiplicando bons projetos

 

Em 2018, no âmbito do Programa de Inovação Educação Conectada (Piec), do Ministério da Educação (MEC), o BNDES lançou, em parceria com o ministério, uma chamada pública para selecionar projetos de incorporação de tecnologia nas escolas de redes públicas estaduais e municipais, a fim de testar modelos efetivos de adoção da tecnologia como ferramenta pedagógica. Essa ação, denominada Iniciativa BNDES Educação Conectada, visou contribuir para a implementação do Piec ao gerar conhecimento sobre a adoção da tecnologia em redes públicas, de forma ampla e efetiva, a partir da experiência dos projetos apoiados.

 

A concepção da IEC utiliza o mesmo marco conceitual do programa: o conceito de escola conectada. Assim, os projetos foram estruturados com atividades interconectadas em quatro dimensões – visão, formação, recursos educacionais digitais e infraestrutura, – de modo a enfrentar os desafios pedagógicos das redes e gerar impactos positivos no processo pedagógico.

 

Dessa maneira, a IEC objetiva gerar conhecimento sobre a adoção da tecnologia em redes públicas de forma ampla e efetiva a partir da experiência dos projetos apoiados por meio da viabilização, da assistência à implantação e do acompanhamento de projetos catalisadores do Piec. Para isso, utiliza recursos não reembolsáveis do BNDES e de outros parceiros do setor privado, contribuindo para o aprendizado institucional e a disseminação do programa, bem como para sua revisão e aprimoramento enquanto política pública.

 

Os efeitos esperados da Iniciativa BNDES Educação Conectada vão além dos impactos diretos nas redes de ensino e escolas apoiadas. Espera-se que o seu legado seja incorporado nas políticas educacionais e utilizado por outras redes para replicar as ações dos projetos e implementar o Piec. Assim, o efeito poderá favorecer a qualidade da educação em diversas redes de ensino do país, promovendo equidade e contribuindo com as políticas públicas educacionais.

 

Esse texto é baseado em artigo de Maria Parreiras, Juliana Bazílio, Eduardo Borges e Paulo Montano, publicado na Revista do BNDES 56.

 

>> Acesse o estudo na íntegra

 

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