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BNDES - Agência de Notícias

Fri Nov 22 20:28:58 CET 2024 Fri Nov 22 20:28:58 CET 2024

Blog do Desenvolvimento

Equidade, diversidade e desenvolvimento: entrevista com Jayati Ghosh

 

Nos dias 20 e 21 de março, o BNDES promove o seminário Estratégias de Desenvolvimento Sustentável para o Século XXI, que contará com a participação de representantes de governo e especialistas da área acadêmica para discutir como a atuação do Estado e a implementação de políticas públicas podem contribuir para a superação dos principais desafios atuais, no mundo e no Brasil.

Organizado em três painéis, além das mesas de abertura e encerramento, o evento passa por temas como: a experiência internacional no contexto de crises; os investimentos públicos necessários para garantir à população os serviços essenciais no Brasil; e o papel do Estado na coordenação de esforços para redução da pobreza e das desigualdades, sem perder de vista as agendas de ampliação da capacidade produtiva, infraestrutura e descarbonização da economia.

Já antecipando as discussões do seminário, entrevistamos a professora Jayati Ghosh. Docente da Universidade Jawaharlal Nehru, em Nova Delhi, por cerca de 35 anos, Ghosh é hoje professora de Economia na Universidade de Massachusetts Amherst. Ocupou entre 2002 e 2021 o cargo de secretária executiva do International Development Economics Associates (IDEAS) e é autora de 20 livros e mais de 200 artigos acadêmicos. É reconhecida por sua contribuição em temas como desigualdade, trabalho decente, pobreza e gênero.

 

Jayati Ghosh participará do terceiro painel do evento, sobre o papel do Estado na coordenação de investimentos de longo prazo, no dia 21, às 9h30.

 

Confira a seguir a entrevista e acompanhe o evento. A programação será toda transmitida ao vivo pelo canal do BNDES no YouTube, no horário das 9h às 13h.

 

ENTREVISTA

A entrevista foi realizada em inglês, com tradução livre feita pelo BNDES. Os conteúdos apresentados em entrevistas e artigos assinados não refletem, necessariamente, a visão do BNDES.

 

How can governments act effectively to combat inequality and poverty, in the context of decarbonizing the economy?

Como os governos podem atuar efetivamente no combate à desigualdade e à pobreza, no contexto da descarbonização da economia?

 

It’s a myth that decarbonization is against poverty reduction—and the myth is based on sustaining the present levels of inequality. In fact, within most countries and in the world as a whole, it is the top ten per cent (and even top 1 per cent) that are responsible for around half of total carbon emissions. Their emission have been growing even as those of the bottom half have come down. So reducing income and asset inequality is central to the decarbonization project. That means governments must tax the rich, and tax luxury carbon consumption—and use the proceeds for green investment and policies to reduce poverty (like ensuring universal public services and providing for basic needs of all).

 

A ideia de que a descarbonização vai contra a redução da pobreza é um mito – e o mito é baseado na manutenção dos atuais níveis de desigualdade. Na verdade, na maioria dos países e no mundo como um todo, são os 10% mais ricos (e até os 1% mais ricos) os responsáveis ​​por cerca de metade das emissões totais de carbono. Suas emissões têm crescido ao mesmo tempo em que as da outra metade têm sido reduzidas. Portanto, reduzir a desigualdade de renda e de ativos é fundamental para o projeto de descarbonização. Isso significa que os governos devem tributar os ricos e tributar o consumo de carbono de luxo – usando os recursos decorrentes para investimentos verdes e políticas para redução de pobreza (como garantir serviços públicos universais e atender às necessidades básicas de todos).

 

How can the State coordinate efforts with the private sector, ensuring that everyone works towards sustainable development?

De que forma o Estado pode coordenar esforços com a iniciativa privada, garantindo que todos atuem no sentido do desenvolvimento sustentável?

 

There’s no doubt that both public and private investments are required, at much higher levels than currently, to work towards sustainable development and green economies that alleviate climate change. But coordination with the private sector has to go beyond offering incentives; it must also feature conditions for such incentives and accountability of the private actors (to make sure that private actions are in line with social goals) and regulations and other public actions to ensure that market incentives don’t operate in the opposite direction (like reducing or eliminating fossil fuel subsidies and preventing destabilizing cross-border capital flows).

 

Não há dúvida de que tanto investimentos públicos quanto privados são necessários, em níveis muito mais elevados do que os atuais, para trabalhar em prol do desenvolvimento sustentável e de economias verdes que aliviem as mudanças climáticas. Porém, a coordenação com o setor privado deve ir além da oferta de incentivos; devendo também apresentar condições para tais incentivos e responsabilização dos atores privados (para garantir que as ações privadas estejam alinhadas com objetivos sociais), além de regulamentação e outras ações públicas para garantir que os incentivos do mercado não operem na direção oposta (como reduzir ou eliminar os subsídios aos combustíveis fósseis e evitar fluxos de capitais transfronteiriços desestabilizadores).

 

What is the importance of policies aimed at gender equality and diversity in promoting a new model of global development?

Qual a importância de políticas voltadas para a equidade de gênero e diversidade na promoção de um novo modelo de desenvolvimento global?

 

Economies across the world today are based on gender inequality. They rely on unpaid labor (largely performed by women, within households and communities) and wage gaps resulting from segmented labor markets. This is not just unfair and unjust—it also makes for a completely distorted view of what really matters in our societies. Because we persist in valuing only what the market values (through our GDP obsession) we undervalue crucial activities like care services and we overvalue destructive activities (like armaments and wars, and excessive growth of finance that doesn’t serve real needs). A truly gender-aware perspective would actually turn the way we look at an economy on its head: instead of thinking of how different social changes would add to economic activity, we would be identifying our social goals (such as health for all, expansion of human capabilities, reduced inequalities, living in harmony with nature and the planet) and then trying to see what kind of economy could deliver those social goals. In other words, we would have a completely new model of not just development but of the economy and how we organize it.

 

As economias mundiais são hoje baseadas na desigualdade de gênero. Elas dependem de trabalho não remunerado (realizado  principalmente por mulheres, dentro das famílias e comunidades) e diferenças salariais resultantes de mercados de trabalho segmentados. Isso não é apenas injusto, como também cria uma visão completamente distorcida do que realmente importa em nossas sociedades. Porque persistimos em valorizar apenas o que o mercado valoriza (por meio de nossa obsessão com o PIB), subestimamos atividades cruciais como serviços de assistência e supervalorizamos atividades destrutivas (como armamento e guerras, e crescimento excessivo de finanças que não atendem às necessidades reais). Uma perspectiva verdadeiramente consciente de gênero, na verdade, viraria de cabeça para baixo a maneira como olhamos para uma economia: em vez de pensar em como diferentes mudanças sociais se agregariam à atividade econômica, estaríamos identificando nossos objetivos sociais (como saúde para todos, expansão da capacidades humanas, redução de desigualdades, viver em harmonia com a natureza e o planeta) e, então, tentando ver que tipo de economia poderia alcançar tais objetivos. Em outras palavras, teríamos um modelo completamente novo não apenas de desenvolvimento, mas de economia e de como a organizamos.

 

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