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10:00 06/03/2017

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Causas de mortes no Brasil

Atualmente, apenas os países de baixa renda têm um percentual maior de mortes por doenças transmissíveis que por doenças não transmissíveis. Estima-se que, até 2030, a maioria dos países já tenha realizado a transição para um perfil de maior prevalência de doenças não transmissíveis. No Brasil, as principais causas de morte já são as doenças não transmissíveis, com destaque para as doenças cardiovasculares, os diversos tipos de câncer, diabetes, doenças respiratórias e do aparelho digestivo (gráfico).

 

BNDES - imagem ilustrativa

 

As doenças transmissíveis representam 13,5% do total de mortes, sendo relevantes a Aids, a tuberculose, a doença de Chagas e as doenças diarreicas. Em relação às causas externas, chama a atenção o fato de o Brasil, apesar de ser um país de renda média-alta, ter um percentual de mortes acima da média dos países de renda baixa. Entre as causas externas, as mais significativas são a violência e os acidentes de trânsito.

A iniciativa Saúde Amanhã, da Fiocruz, aponta as principais mudanças no perfil epidemiológico brasileiro previstas para ocorrer até 2033, com base nos dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) e do Sistema Nacional de Agravos de Notificação (Sinan). Dentre os resultados da análise, destaca-se o aprofundamento da tendência de aumento do peso das doenças crônicas não transmissíveis (SILVA JR.; RAMALHO, 2015).

Segundo essas estimativas, as doenças do aparelho circulatório continuarão sendo a principal causa de morte, apesar de sua importância relativa diminuir, seguidas pelas doenças oncológicas, que tendem a continuar aumentando, em função do envelhecimento da população. Alzheimer e outras demências também devem continuar crescendo (SILVA JR.; RAMALHO, 2015). Essas doenças causam alto impacto ao sistema de saúde e trazem a necessidade de pensar modelos de atenção diferenciados, complementares ao ambiente hospitalar tradicional, envolvendo o atendimento domiciliar, cuidadores comunitários e suporte familiar, entre outros, conforme será explorado na seção seguinte (WHO, 2015).

As únicas doenças transmissíveis que figuram entre as dez principais causas de morte no Brasil para os próximos anos são as infecções respiratórias inferiores. Esse grupo compreende infecções de origem viral ou bacteriana, com impacto relevante em pacientes jovens, imunodeprimidos e idosos, por serem mais vulneráveis (SILVA JR.; RAMALHO, 2015).

De forma geral, em relação às doenças transmissíveis, pode-se vislumbrar tendências distintas para três grupos desse tipo de doença, segundo Silva Jr. e Ramalho (2015). A primeira tendência é de eliminação de parte das doenças transmissíveis como problema de saúde pública. Prevê-se que algumas doenças transmissíveis terão sua incidência reduzida a uma velocidade tão acelerada, que vão se aproximar da extinção até a década de 2030. Essa redução será decorrente de estratégias recentemente adotadas de tratamento coletivo em áreas de alta prevalência, maior eficiência na busca e tratamento de contatos, quimioprofilaxia, entre outros fatores. Nesse primeiro grupo, estão doenças como a hanseníase, as geohelmintíases, o tracoma, a esquistossomose, a filariose e a oncocercose.

A segunda tendência importante refere-se às doenças contagiosas que provavelmente persistirão, uma vez que os instrumentos e estratégias para enfrentá-las são limitados. Nesse segundo grupo, estão a tuberculose, a Aids, a dengue e outras.

A terceira tendência é a possível emergência ou ressurgência de doenças infectocontagiosas nos próximos vinte anos, em decorrência do aumento do trânsito mundial de mercadorias e pessoas, elevando a possibilidade de disseminação rápida de vírus e bactérias. Essas doenças podem causar grande impacto sanitário e demandar que o país reforce sua capacidade de rápida detecção e resposta. Pode-se elencar como doenças pertencentes a esse grupo a síndrome respiratória aguda grave (SARS), o chikungunya, a zika e o ebola.

Por fim, as causas externas ainda devem aumentar seu peso relativo na taxa de mortalidade até 2033. São predominantemente agressões e acidentes de trânsito, em número tão impressionante, que têm o efeito de arrefecer a tendência ao envelhecimento da população, dado que são importantes causas de falecimento de homens jovens.

A distribuição das causas de morte é também heterogênea no território. As doenças isquêmicas e cerebrovasculares são as maiores responsáveis por óbitos em todas as regiões do Brasil, exceto no Norte, onde as agressões estão em primeiro lugar. No Nordeste e no Centro-Oeste, as agressões também figuram entre as quatro principais. A região Norte diferencia-se ainda pela presença mais elevada de doenças infectocontagiosas. No Sul e no Sudeste, as mortes por Alzheimer e outras demências têm maior peso do que no restante do país. Por fim, outro fato que chama a atenção é o acidente de trânsito como quarta principal causa de morte no Centro-Oeste *.

Nas projeções para o futuro, espera-se um aumento de importância das doenças respiratórias inferiores na região Sudeste, em particular, e no Brasil. Também se destaca o aumento da incidência da diabetes como causa de morte, no Norte, e o do Alzheimer e outras demências, principalmente no Sul e Sudeste. Tendo em vista as diferenças regionais apontadas, fica clara a necessidade de pensar a política pública de saúde de acordo com a realidade de cada região.

 

* As projeções de causa de morte no Brasil utilizadas para a análise territorial apresentam um nível de agregação distinto do restante da seção. Dessa forma, os diversos tipos de câncer não aparecem com o mesmo destaque, pois não foram agregados em uma única categoria.

 

Esse texto é um trecho do artigo O desafio do envelhecimento populacional na perspectiva sistêmica da saúde, publicado no BNDES Setorial 44 (pág. 106-109) por Carla Reis, Larissa Barbosa e Vitor Pimentel, empregados do BNDES.

 

 

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Referências

SILVA JR., J. B.; RAMALHO, W. M. Cenário epidemiológico do Brasil em 2033: uma prospecção sobre as próximas duas décadas.Texto para discussão. Rio de Janeiro: Fundação Oswaldo Cruz, 2015.

WHO – WORLD HEALTH ORGANIZATION. Disability-adjusted life years (DALYs). Geneva: WHO, 2012.

__________. World Report on ageing and health. Luxembourg, 2015.

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