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BNDES - Agência de Notícias

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Blog do Desenvolvimento

Show da Luna
TV PinGuim.

A economia criativa e o mercado audiovisual

Internacionalmente, as mudanças econômicas e sociais dos anos 1990 impulsionaram o deslocamento do foco das atividades industriais tradicionais para as atividades intensivas em conhecimento, localizadas no setor de serviços dinâmicos – e, por isso, com maior capacidade de geração de trabalho e, muitas vezes, maior capacidade de geração de valor agregado e apropriação (direitos de propriedade) (FLORIDA, 2002). Dentre essas atividades, destaca-se a indústria do conhecimento e da criatividade. No mundo pós-industrial, portanto, a inovação e a criatividade são protagonistas na contribuição para ganhos crescentes de competitividade das empresas de um país.

As atividades criativas são aquelas baseadas na capacidade de criação individual aliada à habilidade e ao talento e que produzem emprego e renda na geração e exploração de nova propriedade intelectual e novo conteúdo. Para John Howkins, pesquisador pioneiro nessa área, as indústrias criativas geram produtos com maior valor agregado, pois, por um lado, são constituídos de recursos intangíveis baseados na qualidade – e não no custo – e, por outro, são passíveis de propriedade intelectual, que garante a perpetuação do ganho. Dessa forma, as atividades criativas são responsáveis por parte significativa da geração de renda e emprego de um país que caminha para a pós-industrialização (HOWKINS, 2001).

No mundo atual, o processo de concorrência, em grande medida, toma a forma de inovações, que, por sua vez, traduzem-se na contínua invenção e reinvenção de processos, bens e serviços. Os recursos intangíveis, como a criatividade, são fatores não físicos com grande potencial para aumentar a competitividade das empresas. Eles são utilizados na produção de bens ou serviços que podem gerar benefícios futuros para seus proprietários ou controladores, o que inclui algum direito de propriedade específico: marcas (derivadas do marketing e da comercialização); patentes (das tecnologias); e copyright (das artes e da cultura) (FINGERL; GARCEZ, 2002).

Assim, para a economia criativa, a geração de riqueza depende da capacidade do país de produzir conteúdo criativo, transformá-lo em bens ou serviços comercializáveis e encontrar formas de distribuí-los, no mercado local e no exterior, ganhando escala e divulgando seu conhecimento (KUHN, 1993).

O setor audiovisual, um dos grandes integrantes da indústria criativa, firma-se com destaque na economia brasileira. Segundo estudo recente da Agência Nacional do Cinema (Ancine), o valor adicionado pelo setor audiovisual à economia brasileira cresceu, em termos nominais, 192% entre 2007 e 2014, chegando a R$ 24,5 bilhões em renda gerada nesse último ano. Em termos reais, o crescimento médio anual foi de 8,8% entre 2007 e 2013, quando a participação do setor no produto interno bruto (PIB) brasileiro foi de 0,54% (ANCINE, 2016). [1] 

Esse crescimento pode ser observado em todos os segmentos da cadeia audiovisual. O parque exibidor brasileiro, por exemplo, cresceu expressivamente nos últimos anos. Em 2002, existiam 1.635 salas em todo o país. Atualmente, são contabilizadas mais de 3.100 salas de cinema. Já o segmento de produção vem apresentando resultados igualmente expressivos, especialmente graças à criação do Fundo Setorial Audiovisual, que conta com orçamento anual aproximando-se de R$ 1 bilhão, e à aprovação da Lei 12.485/2011, que não apenas promoveu a regulamentação da entrada das empresas telefônicas no ramo de TV paga, mas também estabeleceu quotas de canais brasileiros e de conteúdo nacional mínimo na programação televisiva.

Nesse cenário, observam-se a acelerada ampliação da quantidade de horas produzidas, o aumento de canais e programadoras nacionais e, de forma destacada, o crescimento e fortalecimento de produtoras nacionais independentes, com competitividade internacional cada vez maior. Além disso, no segmento cinematográfico, o avanço da produção nacional tem contribuído para o surgimento de distribuidoras nacionais que auxiliam na construção de equações rentáveis para os filmes brasileiros.

No segmento de produção independente para TV, as principais produtoras têm ampliado seu faturamento nos principais canais internacionais, demonstrando a qualidade da produção audiovisual brasileira. Nesse movimento, importa ressaltar que boa parte dessa produção é desenvolvida nos núcleos criativos das produtoras nacionais. Além disso, a produção audiovisual vem gerando direitos proprietários que contribuem para a criação de catálogos e, consequentemente, para a geração sustentada de receitas, com grande potencial de exportação. Nesse contexto, destaca-se o segmento de animação, com sua capacidade de geração de renda e emprego qualificado.

Segundo dados de 2014 da Digital Vector, a animação é um dos segmentos da indústria criativa mundial com maior potencial de crescimento. Com base no crescimento médio registrado de 7% ao ano, o provável faturamento mundial para 2017 estaria em cerca de US$ 291 bilhões (DIGITAL VECTOR, 2014). E mais: a indústria audiovisual de animação digital movimentou em torno de US$ 500 bilhões em licenciamento de marcas e personagens em 2013, o que representa mais do que o dobro do realizado em 2006 (US$ 200 bilhões) (KIDSCREEN MAGAZINE, 2014).

Um exemplo do potencial brasileiro nesse setor é a série Peixonauta (Fishtrounaut), da TV PinGuim em parceria com a Breakthrough – a primeira série de animação brasileira comprada pela Discovery Kids Latin America. Desde seu lançamento em 2009, vem alcançando elevados índices de audiência no Brasil, sendo vendida para mais de 75 países, incluindo Canadá e Estados Unidos, e gerando receitas com o licenciamento de mais de trezentos produtos que utilizam sua marca.

 

BNDES - imagem ilustrativa
Peixonauta. Foto: TV PinGuim.

Outros exemplos setor são as séries Show da Luna,[2] (Earth to Luna) e S.O.S. Fada Manu (S.O.S. Fairy Manu), que foram indicadas ao 2016 International Emmy Kids Awards. Dentre os longas-metragens, destaca-se O menino e o mundo, produção nacional recentemente indicada ao Oscar. Tais exemplos corroboram o fato de que a produção brasileira vem aumentando não apenas em números, mas principalmente em qualidade e competitividade internacionais.

 

[1] Na época em que Ancine (2016) foi publicado, não havia informação, para além de 2013, sobre o deflator usado no estudo. Por esse motivo, os valores de 2014 estão apresentados apenas em termos nominais.
[2] A série foi lançada primeiramente no mercado norte-americano, com a compra do direito de exibição pelo canal pré-escolar Sprout, antes mesmo do lançamento no Brasil.

 

Adaptado do artigo“Economia da cultura: a oportunidade de um novo vetor de desenvolvimento”, de autoria de Luciane Gorgulho, Marina Moreira da Gama e Patrícia Zendron, publicado no livro Um olhar territorial para o desenvolvimento: Sudeste, e do artigo “A inserção dos países em desenvolvimento no mercado global de animação”, de Marina Moreira da Gama, publicado na Revista do BNDES 42.

 

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