Transição climática tem de observar diferenças entre países e regiões, dizem painelistas em Fórum

As oportunidades da transição para uma economia neutra em carbono e os desafios para que ela se dê de forma justa foram tema de webinar promovido pelo BNDES nesta terça-feira, 26, em mais uma edição da série Fóruns de Sustentabilidade.

Contextualizando a atuação do BNDES nessa área, o diretor de Crédito Produtivo e Socioambiental do Banco, Bruno Aranha, disse que “Quando falamos de transição climática, falamos de uma transição justa, para que ela aconteça de forma inclusiva e não venha a perpetuar as desigualdades sociais e de crescimento entre as diferentes regiões. Por isso, transição e inclusão são dois pilares que temos trabalhado”.

Para a secretária de Amazônia e Serviços Ambientais do Ministério do Meio Ambiente (MMA), Marta Giannichi, “A palavra ‘justa’ vem muito a calhar nesse tema, que é bastante complexo. Promover essa justiça com realidades tão diferentes é difícil. Justiça pressupõe igualdade, mas nem todas as pessoas e setores estão em pé de igualdade. No Brasil, temos regiões extremante industrializadas e ricas e regiões mais carentes, não tão industrializadas, que são mais pobres e onde a biodiversidade e a pobreza estão altamente correlacionadas. Como sinalizar para elas que é importante caminhar para uma economia neutra e verde, sem proporcionar os meios para que se desenvolvam?", questionou.

Uma transição justa pressupõe não deixar ninguém para trás. As regiões ricas devem continuar ricas, mas as pobres não podem estar fadadas a permanecer pobres para sempre”, completou a secretária do MMA, observando que levar a essas regiões mais empreendedorismo e oportunidade verdes é um desafio, mas, ao mesmo tempo, uma oportunidade, inclusive para o setor privado.

Em linha semelhante, a presidente da Microsoft Brasil, Tania Cosentino, afirmou que cortar metade das emissões de CO2 enquanto há mais de 1 bilhão de pessoas sem acesso a energia é um grande desafio a endereçar. “Para isso, precisamos de ONGs, academia, setor público, de um engajamento multissetores. O desafio é grande demais para um grupo único”, disse.

A presidente da Equinor no Brasil, Verônica Rezende, traduziu a questão em números: “Até 2040, ainda deveremos ter 1,5 bilhão a mais de pessoas no planeta. Algumas delas não vão nascer nos países mais desenvolvidos, e sim em regiões que hoje já carecem de energia. O nosso desafio como sociedade é desenvolver soluções que levem energia limpa, eficiente, sustentável e justa para todas as pessoas do planeta. Para nós, como empresa de energia, esse cenário obviamente é um desafio”.

Falando sob a ótica do mercado financeiro, especificamente dos bancos multilaterais e de desenvolvimento, a diretora-geral do escritório regional das Américas do New Development Bank (NDB), Claudia Prates, destacou o papel indutor que os financiamentos podem ter.

“No momento em que se financia, é possível colocar indutores para acelerar a economia verde, a neutralidade. No etanol de segunda geração, por exemplo, o Brasil teve a oportunidade, com apoio do BNDES, de aumentar a produção sem ter impacto na região, porque, com investimentos em tecnologia, consegue duplicar a produção. Isso pode ser levado, por exemplo, para países como a Índia, que tem necessidades energéticas importantes e não tem tantas terras como o Brasil. A exportação dessa tecnologia seria muito importante para acelerar a neutralidade de carbono em algumas regiões”, exemplificou.

Natalie Unterstel, presidente do instituto Talanoa, um think tank voltado a questões climáticas, encerrou o painel destacando a adequação do timing para o assunto. “A conversa da transição no Brasil está na hora certa. Acompanho negociações climáticas a muitos anos e é importante lembrar que, até 2015, com o Acordo de Paris, não tínhamos as tecnologias que temos agora”, disse.

“Não é à toa que as energias solar e eólica deram um salto. A eólica é hoje a segunda fonte na nossa matriz, e o BNDES teve papel importante nisso. De 2015 para cá, temos visto uma conjugação de tecnologia, movimentação política e alinhamento dos fluxos financeiros de investimento. Não é só uma transição de fontes, é transição de empregos, modelos de negócio, outro espírito do tempo”, definiu.

Foto: André Telles/BNDES

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