Um ano da tragédia: com apoio de R$ 39,3 bi do BNDES em 2024, PIB gaúcho cresceu 4,9%
- De junho do ano passado a 20 de abril de 2025, Banco destinou R$ 32,4 bilhões à recuperação do Rio Grande do Sul
- Valor de financiamentos, garantias e suspensão de pagamentos corresponde a 29% do total da ajuda federal ao estado
- No dia que marca o 1º ano da tragédia, presidente do Banco, Aloizio Mercadante, participou de um fórum em Porto Alegre sobre transição ecológica
Assolado por uma tragédia climática iniciada em abril de 2024, com extensão ao longo do mês seguinte, o Rio Grande do Sul recebeu no ano passado R$ 39,3 bilhões em financiamentos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O valor faz parte do pacote de socorro montado pelo Governo Federal, que somou mais de R$ 111,6 bilhões, utilizados para apoio emergencial dos atingidos e para a recuperação econômica do Estado.
A destruição causada pelas chuvas que iniciaram em 28 de abril de 2024 foi o ponto de partida para as discussões do Primeiro Grande Debate do Fórum Democrático - Pacto 25: O crescimento sustentável é agora. O evento, promovido pela Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul (ALRS), em Porto Alegre, teve Mercadante como convidado principal. Realizado no Salão Nobre da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre UFCSPA, o encontro marcou o primeiro ano da tragédia ambiental que assolou boa parte do Estado. A diretora de Crédito Digital para MPMEs e Gestão do Fundo Rio Doce, Maria Fernanda Coelho, também participou da agenda na capital gaúcha.
Na avaliação do presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, o apoio do Banco, que incluiu também medidas emergenciais para a reconstrução do estado, contribuiu para o crescimento de 4,9% do PIB gaúcho em 2024. “A atuação do Banco, juntamente com outras ações do governo do presidente Lula, foi decisiva para a expansão da economia do estado”, avaliou o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante. “Esse resultado ficou bem acima do crescimento do PIB nacional, que também foi expressivo, de 3,4%, superando todas as previsões dos analistas, do mercado, do boletim Focus [publicação do Banco Central], e do FMI”.

Foto: Raul Pereira - ALRS
De junho de 2024 até 24 de abril deste ano, as medidas emergenciais do BNDES já aprovou R$ 32,4 bilhões à recuperação econômica do Rio Grande do Sul. O valor corresponde a 29% do total destinado pelo governo federal às medidas emergenciais (R$ 111,6 bilhões).
Foram R$ 22,8 bilhões em financiamentos, R$ 4,3 bilhôes em crédito alavancado pela concessão de garantias e R$ 5,3 bilhões em suspensão de pagamentos. Ao todo, foram 89.581 operações, sendo 9.992 de crédito, 5.720 de garantias e 73.869 que tiveram os pagamentos suspensos.
A maior parte dos financiamentos atendeu micro, pequenas e médias empresas: R$ 14,2 bilhões aprovados em 9.443 operações, com R$ 10,5 bilhões já desembolsados. Nas 549 operações com grandes empresas, as aprovações somam R$ 8,6 bilhões e os desembolsos chegam a R$ 5,6 bilhões. Do total de crédito aprovado, R$ 17,5 bilhões foram destinados a capital de giro, R$ 2 bilhões a investimento e reconstrução e R$ 3,2 bilhões à aquisição de máquinas e equipamentos, em 7.077, 127 e 2.788 operações, respectivamente.
Em concessão de garantias, foram consumidos R$ 350,8 milhões, o que representa 68,51% do limite global, de R$ 512 milhões. Já a suspensão de pagamentos, beneficiou, principalmente, os clientes de operações indiretas, em 71.286 operações com juros equalizados, cujas parcelas suspensas somam R$ 4,1 bilhões, e 2.516 sem equalização, no valor total de R$ 353,3 milhões. Também tiveram o pagamento suspenso 67 operações diretas, totalizando R$ 801,8 milhões.
“Aumentamos seis vezes a velocidade de aprovação de crédito para o Rio Grande do Sul”, ressaltou Mercadante. “Os financiamentos do BNDES também viabilizaram a recuperação do Aeroporto Salgado Filho e evitaram que a concessionária de energia repassasse aumentos para toda a economia gaúcha”.
Tragédia – O primeiro alerta das enchentes que devastaram o Rio Grande do Sul foi disparado no dia 29 de abril do ano passado. No dia seguinte, já foram registradas as primeiras cinco mortes provocadas pelas chuvas. Até hoje, foram contabilizadas 184 mortes e 25 pessoas permanecem desaparecidas. Para enfrentar o desastre, que atingiu 96% do território do estado, foram mobilizadas equipes de resgate. Alguns dos 478 municípios afetados ainda sofrem as consequências da catástrofe.
O presidente do BNDES lembrou das famílias que perderam familiares e amigos e do espírito guerreiro da população. O Banco teve papel destacado na recuperação da economia gaúcha. “Foi um esforço gigantesco. Agora, o Estado brasileiro precisa se preparar para enfrentar a crise climática. A emergência não pode pensar apenas na infraestrutura pública. No caso do Rio Grande do Sul, se nós não tivéssemos agido para recuperar as empresas, o Estado não iria se levantar. Com tudo isso, conseguimos recuperar a economia. Nesse ano, o PIB gaúcho cresceu 4,9%, acima da média nacional”, lembrou.
Para o governador do Estado, Eduardo Leite, o BNDES foi um parceiro fundamental para mitigar os efeitos das enchentes e realizar a retomada após a catástrofe. “Quero saudar e agradecer ao presidente do BNDES e a toda a equipe do banco pelo seu papel naquele momento e nesse último ano. Obtivemos não apenas linhas de crédito, mas parcerias importantes, como o centro de monitoramento de riscos de desastres que irá auxiliar o Estado no futuro”, afirmou Leite, em sua fala de abertura.
Desde o início, o BNDES integrou os esforços empreendidos pelo governo federal para apoiar a reconstrução do estado. Por meio do programa BNDES Emergencial para o Rio Grande do Sul, o Banco disponibilizou recursos do Fundo Social (FS), vinculado à Presidência da República, para financiamento direto e indireto a clientes em áreas atingidas, com taxas de até 0,8% ao mês para MPMEs e de 1% para grandes empresas, na modalidade capital de giro, e de até 0,6% nas modalidades de investimento e reconstrução e de máquinas e equipamentos para.
Nessas regiões, o BNDES também suspendeu a amortização dos financiamentos contratados por 12 meses, contados a partir de maio de 2024, prorrogou o prazo dos contratos vigentes por até 12 meses, sem necessidade de elevar a taxa de risco de crédito.
Por meio do programa FGI Peac Crédito Emergencial RS, o Banco ofereceu garantias de até 80% do valor do crédito, que é limitado a R$ 10 milhões por operação. Para facilitar a concessão de financiamentos do BNDES, a Receita Federal prorrogou a validade das certidões fiscais dos contribuintes nas áreas com estado de calamidade pública decretado pelo governo gaúcho.
No dia 4 de junho, o BNDES montou um posto avançado na sede do Conselho Regional de Contabilidade do Rio Grande do Sul (CRC-RS). Cerca de 30 funcionários se deslocaram do Rio para Porto Alegre com o objetivo de oferecer uma base local para difusão de informações, abordando as condições financeiras, modalidades operacionais e condições para acesso. “A equipe foi ao estado voluntariamente, de carro, porque o aeroporto estava fechado”, lembrou Mercadante. O posto permaneceu em funcionamento até 28 de junho.
Transição climática - Ao traçar um panorama das mudanças climáticas e dos seus impactos, especialmente no Brasil, Mercadante lembrou do pouco avanço da agenda ambiental nos últimos 50 anos e das dificuldades encontradas em todo o mundo. O fato de o aquecimento da Terra já ter atingido o ponto esperado para 2030 - meta firmada no Acordo de Paris - é um alerta global. Para o presidente do BNDES, “é preciso reverter a marcha da insensatez. Não adianta apenas correr atrás dos prejuízos climáticos”.
Um dos pontos centrais do debate, o financiamento de uma nova matriz energética, tem recebido contribuições históricas do BNDES. Para o presidente do Banco, a participação do Estado é fundamental dado os enormes desafios da realização de uma transição energética que demandará fortes investimentos. “Não haverá transição climática sem a participação do Estado. Esta é a primeira vez na história em que a nova matriz energética é mais cara do que a matriz estabelecida. Em todas as vezes anteriores em que passamos por um processo semelhante, a troca era de uma matriz mais custosa para uma mais eficiente e barata. Não é o nosso caso agora”, reforçou.
Segundo maior produtor e maior consumidor de biocombustíveis do mundo, o Brasil é apontado como vanguarda dessa transformação energética. O BNDES tem participação neste cenário, financiando projetos desde a década de 1970. “Somos o Banco do mundo que mais financiou energia limpa e renovável na história. O Brasil é o número 1 do G20 em termos de energia limpa e renovável. Temos a melhor matriz entre as economias mais desenvolvidas do planeta. O que precisamos agora é olhar para a inovação, para os setores de ponta. Um deles é a Inteligência Artificial (IA). Precisamos desenvolver tecnologia própria e usá-la para ajudar a resolver os problemas do país”, ressaltou Mercadante.
Foto: Fernando Gomes - ALRS