BNDES lança iniciativa para impulsionar mercado de floresta tropical com apoio a silvicultura de espécies nativas
- BNDES Floresta Inovação inicia com apoio de R$ 25 milhões a um projeto de desenvolvimento de inovações em restauração florestal e silvicultura com espécies nativas
- A iniciativa tem como parceiros a fundação FAI UFSCar e a Embrapa para desenvolver e disseminar inovações tecnológicas e dar escala à produção, como ocorreu a silvicultura de eucalipto
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) anuncia nesta sexta-feira, 10, o BNDES Floresta Inovação, iniciativa para impulsionar o Brasil como protagonista no mercado internacional de madeira tropical. A primeira operação da iniciativa é o apoio de R$ 24,9 milhões a um projeto, aprovado pelo Banco, voltado para o desenvolvimento de inovações em silvicultura de espécies nativas plantadas.
Com o estímulo ao mercado, o BNDES Floresta Inovação busca garantir uma produção sustentável e estável a longo prazo, reflorestando áreas degradadas, e beneficiar econômica e socialmente a população dessas áreas. Os recursos, não reembolsáveis, são do Fundo Tecnológico do Banco (BNDES Funtec).
A iniciativa será um dos anúncios no seminário “BNDES Florestas do Brasil por todo o planeta”, que será realizado nesta sexta-feira, 10, na sede do Banco, no Rio de Janeiro. O evento reunirá agentes públicos e privados para discutir o papel da restauração e da bioeconomia no desenvolvimento do país — e servirá de palco para o lançamento do BNDES Florestas, plataforma que organizará e dará visibilidade às iniciativas do Banco no setor.
BNDES Floresta Inovação – O projeto para inovação em silvicultura aprovado agora pelo BNDES foi proposto pelo Conselho Diretivo do Programa de Pesquisa e Desenvolvimento em Silvicultura de Espécies Nativas (PPD&SEN), lançado em 2021 pelo movimento “Coalizão Brasil”, composto por mais de 400 representantes do setor privado, setor financeiro, academia e sociedade civil. A coordenação do projeto foi assumida pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).
- Saiba mais sobre o PPD&SEN:
A iniciativa conta com suporte administrativo, financeiro e logístico da Fundação de Apoio Institucional ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FAI UFSCar), entidade de direito privado e sem fins lucrativos que apoia a UFSCar - em suas atividades de ensino, pesquisa e extensão e no desenvolvimento científico e tecnológico – e, por autorização do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), também apoia a Embrapa. O aporte do BNDES responde por 80,8% dos recursos demandados. Com as contrapartidas, o volume total dos investimentos chega à R$ 30,8 milhões.
A silvicultura é a ciência dedicada ao cultivo, manejo e conservação de florestas e áreas arborizadas. Ela abrange desde o planejamento e o plantio até a colheita e o processamento de produtos florestais, como madeira e celulose. A finalidade do projeto é desenvolver e disseminar inovações tecnológicas, contribuindo para que a silvicultura de espécies nativas ganhe escala no Brasil, a exemplo do que ocorreu com a silvicultura de eucalipto. A expectativa é de que o país possa ocupar uma posição de liderança na produção sustentável de madeira tropical.
Segundo a diretora Socioambiental do BNDES, Tereza Campello, atualmente, no Brasil, a madeira tropical provém principalmente de florestas naturais já existentes e o crescimento da silvicultura de espécies nativas pode se somar, por exemplo, ao que já é obtido com manejo florestal sustentável em concessões de florestas nacionais.
“Com isso, promovemos a conservação da biodiversidade, o sequestro de carbono e a geração de emprego e renda. Mas esse crescimento só é possível com aplicação do conhecimento e da tecnologia, essenciais para atrair novos investimentos e expandir o mercado para atender parte significativa da demanda global. O objetivo é criar um setor pujante, assim como fizemos com aviação, energias renováveis e com o próprio setor de silvicultura, com base em pinus e eucalipto, onde fomos decisivos para o Brasil despontar como um dos líderes mundiais”, afirmou a diretora.
Cinco temas serão trabalhados: sementes e mudas, melhoramento genético, propagação vegetativa, manejo florestal e tecnologia da madeira. O projeto abrange pesquisas com 30 espécies nativas prioritárias nos biomas Amazônia e Mata Atlântica. As atividades serão desenvolvidas por meio de subprojetos, nos quais instituições de pesquisa atuarão como parceiros executores, que ainda poderão contar com a participação de empresas privadas, as quais responderão por contrapartidas financeiras e não financeiras.
Os plantios das espécies serão prioritariamente mistos (várias espécies), com colheitas em diferentes escalas temporais, sem implicar necessariamente em corte total das árvores. As atividades ocorrerão em 20 sítios em áreas de universidades, centros de pesquisa e empresas parceiras, dos quais 14 disponibilizarão um total aproximado de 160 hectares para o plantio das espécies selecionadas. Outros seis, onde já existem plantios com idades que variam entre 15 e 45 anos, serão polos de referência.
Sítio administrado pela UFSCar é um polo de referência na Mata Atlântica
Foto: Divulgação / UFSCar
O projeto tem duração de 5 anos, mas é encarado como uma primeira fase de um programa mais amplo que pode chegar a 30 anos. A expectativa é que diversos resultados sejam alcançados, a exemplo de clones aperfeiçoados de espécies madeireiras, protocolos de tratamento de sementes, arranjos de espécies melhor adaptados às regiões e tecnologias para produtos de madeira de pequena dimensão.
Biomas – Ao propor o projeto, a Coalizão Brasil indicou a UFSCar para desenvolver as ações na Mata Atlântica pela diversidade e experiência de seu corpo técnico. A coordenação das atividades no bioma será dos professores Fatima Conceição Marquez Piña-Rodrigues, do Departamento de Ciências Ambientais do Campus Sorocaba, e Ricardo Augusto Gorne Viani do Departamento de Biotecnologia e Produção Vegetal e Animal do Campus Araras.
“Nós iremos atuar com pesquisadores dos quatro campi da UFSCar, com experiência na região da Mata Atlântica e nas parcerias com vários órgãos governamentais e empresas, não somente no Estado de São Paulo, mas em outras regiões do país. A nossa iniciativa visa mudar um paradigma: deixaremos de cortar para plantar, estimularemos o plantio sustentável em detrimento da extração ilegal”, ressalta Piña-Rodrigues.
Na Amazônia, o programa será conduzido pela Embrapa Amazônia Oriental, sob responsabilidade da pesquisadora Noemi Leão, e pela Embrapa Florestas, sob responsabilidade do pesquisador Silvio Brienza Junior. “A Embrapa foi a escolhida para atuar na Amazônia pelo histórico de pesquisas realizadas neste bioma e pela permeabilidade na região amazônica, já que possui unidades em todos os estados cobertos pela floresta”, explica o pesquisador.
Benefícios ecológicos e comerciais – As madeiras das espécies de árvores nativas do Brasil estão entre as mais valiosas do mundo e são adequadas para diversos usos e setores. Por esta razão, elas são alvo da exploração ilegal. Para mudar esse cenário, é preciso ampliar o conhecimento envolvendo a silvicultura de árvores nativas, que ainda é disperso e não sistematizado no Brasil.
"O país tem 50 milhões de hectares de áreas de pastagens degradadas com baixa aptidão agrícola. Elas poderiam ser beneficiadas por atividades de reflorestamento para a produção de madeira. Isso corresponde a cerca de metade da área necessária para atender à crescente demanda global por madeira até 2050. Hoje, apesar dessa vantagem competitiva, o Brasil responde por menos de 10% da produção mundial de madeira tropical", explicou Tereza Campello.
O projeto da UFSCar e da Embrapa está alinhado aos esforços do BNDES de promoção da bioeconomia. Além disso, a silvicultura de árvores nativas é vista como uma atividade que pode contribuir com a restauração ecológica produtiva em todos os biomas, inclusive no Arco da Restauração da Amazônia, que está no centro da estratégia ambiental do Banco. A meta é recuperar 6 milhões de hectares até 2030, alcançando 24 milhões de hectares até 2050, mudando assim a paisagem do que hoje é conhecido como Arco do Desmatamento, área fortemente degradada que vai do oeste do Maranhão e sul do Pará em direção a oeste, passando por Mato Grosso, Rondônia e Acre. Esse esforço vai requerer iniciativas variadas e parcerias entre setores nacionais e internacionais, privados e públicos, para garantir os investimentos necessários.
Sítio administrado pela UFSCar é um polo de referência na Mata Atlântica
Foto: Divulgação / UFSCar