BNDES vai apoiar estruturação de projetos para desenvolvimento urbano resiliente e sustentável
- Anúncio foi feito durante fórum internacional realizado pelo BNDES e pelo BID para discutir inovação financeira para as cidades
- Especialistas defendem novos modelos financeiros, como emissão de títulos verdes pelas prefeituras, e ampliação das parcerias com a iniciativa privada
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) irá apoiar cidades e Estados na estruturação de projetos para enfrentar desafios urbanos e climáticos. O anúncio foi feito pelo diretor de Planejamento e Relações Institucionais do Banco, Nelson Barbosa, na abertura do fórum internacional Inovação Financeira para as Cidades: Estruturação de Projetos para Desenvolvimento Urbano Resiliente e Sustentável.
Aberto nesta terça-feira, 26, com dois dias de programação, o evento é uma realização conjunta do BNDES e do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), com apoio do Instituto Clima e Sociedade e parceria da Rio Climate Action Week.
“Muitas vezes, o custo fixo de fazer projetos é muito grande para prefeituras ou governos estaduais”, observou Nelson Barbosa. “Outro problema são os interesses divergentes que podem existir em uma região metropolitana. É preciso que um agente ajude a coordenar esses projetos. E a área de estruturação de projetos do BNDES vem atuando fortemente nisso, com mais de 200 projetos e interesse crescente na parte de cidades”.
O diretor destacou que as ações do BNDES para apoiar o desenvolvimento urbano sustentável e resiliente estão organizadas em três pilares. Além da estruturação de projetos – considerada por ele a mais importante –, o Banco está destinando cerca de R$ 10 bilhões para a retomada de investimentos diretos em empresas, incluindo iniciativas de desenvolvimento das cidades. “Isso vai gerar muitas oportunidades, principalmente para startups que estão buscando negócios em digitalização, eficiência energética, redução de emissões e novos designs urbanos”, comentou.
Na frente de crédito, Nelson ressaltou o Fundo Clima, que apoia projetos de infraestrutura ambiental, e o Fundo de Investimento em Infraestrutura Social, que financia equipamentos e serviços nas áreas de educação básica, saúde, segurança pública e outras áreas do desenvolvimento urbano, como obras de defesa civil.
“Um dos grandes carros-chefes do Fundo Clima é a mobilidade urbana, com projetos de transporte sobre trilhos e de eletrificação da frota de ônibus, com taxa de juros incentivada”, contou. Hoje, o Fundo Clima conta com R$ 20 bilhões e o Fundo de Investimento em Infraestrutura Social, com R$ 10 bilhões. Segundo o diretor, eles devem dobrar de tamanho no ano que vem, totalizando R$ 60 bilhões em financiamento para o desenvolvimento de cidades sustentáveis.
Cidades resilientes – Nelson Barbosa também detalhou as ações do projeto Cidades Resilientes, em que o BNDES faz o mapeamento dos investimentos necessários para adaptação às mudanças climáticas. Um modelo foi a atuação do Banco no Rio Grande do Sul, que pode ser reproduzida em outras áreas urbanas no país.
Citando iniciativas no Rio de Janeiro e no Recife, o diretor contou ainda sobre a atuação do BNDES para reaproveitamento de patrimônios.
Em parceria com o Ministério das Cidades, o Banco também lançou o Estudo Nacional de Mobilidade Urbana, que levantou a possibilidade de expandir a rede de transporte público no Brasil em 2.500 quilômetros nos próximos 10 anos, com projetos de VLT, metrô, monotrilho e barca, entre outros modais.
“Na fase atual, vamos escolher pelo menos dois projetos por região metropolitana para começar a realizar. Alguns já estão em construção, como projetos no metrô de São Paulo. Isso ajuda a reduzir emissões, melhora a qualidade de vida da população e gera empregos”, afirmou o diretor.
Annette Killmer, chefe da representação do BID no Brasil
Foto: André Telles/BNDES
Novos modelos financeiros – Também na abertura do evento, a chefe de representação do BID no Brasil, Annette Killmer, defendeu que as cidades precisam aprimorar sua infraestrutura para suportar extremos climáticos nos próximos anos, incluindo enchentes, secas e ondas de calor. “Essa é uma agenda extremamente importante para as instituições de desenvolvimento”, afirmou.
Segundo a executiva, o BID tem hoje R$ 5 bilhões em investimentos no país para iniciativas de habitação de urbanismo, em parceria com o Ministério das Cidades e com governos estaduais e municipais. A instituição também apoia projetos complementares de transporte, mobilidade, água e saneamento, conectividade e segurança pública.
Para Killmer, são necessários mais debates sobre a elaboração de modelos financeiros inovadores que possam ampliar a parceria entre governos e iniciativa privada para projetos de sustentáveis de infraestrutura urbana.
Mahmoud Mohieldin, enviado das Nações Unidas para Financiamento do Desenvolvimento Sustentável
Foto: André Telles/BNDES
Títulos verdes municipais – Em palestra durante o fórum, o enviado especial das Nações Unidas para Financiamento do Desenvolvimento Sustentável, Mahmoud Mohieldin, alertou que as ondas de calor em grandes cidades podem mais que triplicar até 2050, caso não ocorram adaptações para conter os efeitos das mudanças climáticas.
Segundo o economista, 70% das cidades no mundo já enfrentam impactos climáticos severos, com mais de 3 bilhões de pessoas vivendo em áreas altamente expostas a riscos climáticos. Ele defendeu soluções integradas, incluindo mudanças na infraestrutura das cidades e a ampliação de sistemas de alerta de ondas de calor. “As ações de iniciativa climática não podem ser isoladas, mas integradas como prioridades transversais em todas as funções governamentais", defendeu.
Mohieldin calcula que a demanda anual por investimentos em infraestrutura urbana é de US$ 4,5 trilhões a US$ 5 trilhões em todo o mundo. Para tornar os projetos mais atraentes, ele defendeu parcerias público-privadas e novos mecanismos financeiros, como a emissão de “títulos verdes” pelas prefeituras para financiamento de ações com impacto ambiental positivo.
O evento – Com dois de programação, o fórum tem como objetivo explorar inovações nos modelos de estruturação e financiamento de projetos de desenvolvimento urbano, destacando oportunidades de sinergia entre governos, empresas, bancos de desenvolvimento e organizações internacionais.
A programação conta com painéis sobre inovações financeiras para resiliência climática nas cidades e repovoamento de áreas centrais, entre outros temas, além de palestra com o cofundador da Central Única das Favelas (Cufa), Preto Zezé.
Nelson Barbosa, diretor de Planejamento e Relações Institucionais do BNDES
Foto: André Telles/BNDES