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Por: Agência BNDES de Notícias

Publicação:18:17 15/08/2019 |INOVAÇÃO

Ultima atualização: 11:04 16/08/2019

Fotos: André Telles/Divulgação BNDES

PPPs e concessões criam oportunidades para startups

Empresas nascentes de base tecnológica podem oferecer soluções para concessionárias e SPEs, contribuindo para a prestação de melhores serviços públicos ao cidadão

As parcerias público-privadas (PPPs) e concessões de serviços públicos abrem um leque de oportunidades para startups, no fornecimento de produtos e serviços para concessionárias e sociedades de propósito específico (SPEs). De olho nesse nicho, especialistas e empreendedores discutiram o assunto na terça-feira, 13, no seminário PPPs, Startups e Inovação, no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), no Rio.

Para o coordenador do MBA em PPPs e Concessões da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, Carlos Alexandre Nascimento, o mercado de concessões e PPPs é um campo fértil para o desenvolvimento de soluções para aumentar a eficiência e a qualidade do serviço público prestado, para satisfazer as necessidades do cidadão, e solucionando problemas de gestão.

“As govtechs – startups que fornecem soluções de tecnologia para serviços públicos e funções governamentais – já são uma realidade”, afirma. “O setor cresce na Europa, oferecendo soluções inteligentes para infraestrutura social nos segmentos de iluminação pública, gestão de resíduos sólidos, mobilidade urbana, saúde e segurança, entre outros”.

Estados, municípios e o Distrito Federal apostam na parceria com o setor privado por falta de recursos próprios para investir em infraestrutura. Na opinião de Carlos Alexandre, essa não é motivação correta. “É ilusão pensar que PPP e desestatização é solução para um problema fiscal”, observa.

O acadêmico enumera razões para fazer PPPs: aumento do investimento privado – “num primeiro momento, pois depois você terá que pagar de volta” –, aumento de capilaridade da infraestrutura, com potencial social para universalizar a prestação de serviços públicos essenciais, e ganhos de eficiência. “Para o setor público, ter um contrato com uma concessionária e não com um trilhão de fornecedores por si só, de saída, é um ganho de eficiência que não dá para comparar com a Lei 8666”, exemplifica.

Saneamento – O gerente-executivo de Clientes e Transformação da Iguá Saneamento, Éder Gomes, considera o ecossistema de startup “um motor de inovação muito grande”. “A questão de IoT e cidades inteligentes vai pontuar e perpassar a relação com clientes da concessionária pública”, prevê.

A Iguá lançou o Iguá Lab, iniciativa que busca conectar as startups com os desafios de transformação do saneamento. “Tivemos 90 startups inscritas, dez vencedoras”, conta. “Com sete delas, avançamos em parcerias”. O programa está agora em sua segunda edição.

 

PPPs e concessões criam oportunidades para startups

Bruno Rodrigues, Marília Lara, Rogério Cavalcante, Pedro Souza e Maíra Pimentel

 

Uma das parceiras contratadas é a Stattus 4, que tem como missão acabar com a escassez de água nos centros urbanos. “Hoje, no Brasil, cerca de 30% da água que a gente coleta nos mananciais é perdida durante a distribuição”, afirma a CEO da startup, Marília Lara. “Se a gente economizasse 20% do volume desperdiçado, teria água suficiente para abastecer os 35 milhões de brasileiros que não têm acesso à água potável”.

Com base no sensoreamento fixo e móvel, análise das informações por inteligência artificial e suporte à tomada de decisões por meio de um painel de visualização, a tecnologia da Stattus 4 aumenta a disponibilidade de água, reduzindo o custo de distribuição e a retirada de água das nascentes, e melhora a eficiência do trabalho da equipe, levando o especialista somente ao local onde se identificou um possível problema.

“Nossa solução não tem igual no mercado”, garante Marília. “No setor público, a gente teria que ser contratado por inexigibilidade, que é uma forma muito difícil de se colocar. Vender nossa solução para uma empresa privada concessionária de serviço público é a forma que a gente conseguiu encontrar para começar a entrar no mercado”. Hoje, a Stattus 4 tem contrato com duas concessionárias, atendendo 6 milhões de habitantes em 26 cidades.

Educação – A dificuldade de vender produtos e serviços diretamente ao governo, por não ter concorrentes, também foi enfrentada pela Tamboro, startup que opera desde 2012 no segmento de algoritmos e inteligência artificial para educação de crianças e jovens.

“Em 2017, decidimos mudar nossa estratégia de negócios: hoje trabalhamos desenvolvimento a avaliação de softskills, habilidades muito ligadas à transformação digital e mudança de mindset, avaliando trabalhabilidade e empregabilidade na base da pirâmide das empresas”, lembra Maíra Pimentel, cofundadora da Tamboro.

Prevenção de incêndios – Rogério Cavalcante, cofundador e CEO da Sintecsys, apresentou a solução de videomonitoramento agroflorestal fornecida pela empresa. “Começamos a operar há três anos, desenvolvendo um algoritmo de detecção de incêndio de forma automática num raio de 15 km”, explica. “Um incêndio que levava horas ou até dias [para ser detectado] passa a ser detectado em três minutos”. Hoje a empresa monitora 3,2 milhões de hectares, com dez centros de controle instalados no País.

De acordo com Rogério, sistemas de detecção de incêndios podem evitar prejuízos milionários a concessionárias de serviços públicos. Ele lembra que a maior companhia do setor elétrico da California, a Pacific Gas and Electric, entrou em falência em janeiro, em consequência de ações judiciais milionárias por sua suposta responsabilidade em incêndios ocorridos que assolaram aquele Estado americano em novembro do ano passado, causando a morte de 86 pessoas e consumindo aproximadamente 14 mil casas, 500 lojas, outras 4.300 estruturas e uma área de 61,9 mil hectares.

Saúde – Fundada por quatro jovens que perderam membros da família vítimas de câncer, a WeCancer criou uma plataforma digital de suporte a pacientes com a doença. “A cada ano, temos 600 mil novos casos de câncer no País”, afirma Pedro Henrique Souza, sócio-fundador da empresa, que fornece aos pacientes um aplicativo gratuito para dispositivos móveis.

Pedro e seus sócios perceberam que existe uma falta de registro dos efeitos adversos do tratamento fora dos centros de atendimento. “O paciente volta para casa, sente náusea, enjoo e vômito, e não tem lugar para registrar o que ocorre com ele todos os dias ou ter acesso a profissionais de saúde”, observa. Segundo o empreendedor, isso leva a internações desnecessárias – 50% nas internações em pronto-atendimento no Sistema Único de Saúde (SUS) e 60% na rede privada –, que geram uma perda de R$ 194 mil mensais ao SUS.

No app da WeCancer, que já atende mensalmente mais de 500 pacientes, o usuário faz um registro diário dos sintomas, quantificando-os em uma escala de intensidade, e tem acesso a uma equipe multiprofissional. O programa oferece ainda alarme de medicamentos, consultas e exames, além de permitir que o paciente faça toda a gestão do tratamento e compartilhe as informações com um profissional de saúde, que, com isso, consegue melhorar sua intervenção clínica no tratamento.

“Em 2017, o dr. Ethan Basch, um dos maiores pesquisadores do mundo em monitoramento remoto de pacientes com câncer e hoje nosso mentor, comprovou o resultado, no encontro anual da Asco [Sociedade Americana de Oncologia Clínica], do aumento de cinco meses na sobrevida do paciente e no ganho de 26% na qualidade de vida usando uma tecnologia semelhante à nossa”, ressaltou. Para efeito de comparação, o remédio mais eficaz apresentado no evento da Asco aumenta a sobrevida do paciente em um mês.

 

BNDES apoia empresas nascentes e inovadoras

 

PPPs e concessões criam oportunidades para startups

Bruno Rodrigues, Heldo Vieira, Vanessa Almeida e Lúcio Almirão, do BNDES

 

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O BNDES apoia empresas nascentes e inovadoras por meio de fundos de venture capital, como os da série Criatec, o Primatec, o Avante e o FIP Aeroespacial, do Fundo de Coinvestimento-Anjo e da iniciativa BNDES Garagem de desenvolvimento de startups, que compreende módulos de criação e aceleração, além da estruturação de um centro de inovação.

“Para ser nosso parceiro BNDES Garagem, selecionamos o consórcio formado pelas aceleradoras Wayra e Liga Ventures”, explica o assessor da presidência do BNDES Bruno Rodrigues. “Foram selecionadas 49 startups para o módulo de criação e 30 para o módulo de aceleração”.

O gerente Heldo Vieira, da Área de Estruturação de Projetos do banco de fomento, lembra que a instituição atuou na modelagem de 112 projetos federais de desestatização entre 1980 e 2018, incluindo privatização de controles e participações minoritárias, concessões e arrendamentos. “Na medida em que o poder concedente passa a prestar o serviço por meio da iniciativa privada, você abre um novo mercado em que a startup consegue entrar”, observa.

Metade da população mundial e 84% da população brasileira vive nas áreas urbanas, o que, na avaliação do administrador Lúcio Almirão, da Área de Gestão Socioambiental do BNDES, significa oportunidade para as startups e desafios para os governos em áreas como meio ambiente, transportes e saúde.

Ferramentas de georrefereciamento podem ajudar na prevenção de riscos de alagamento e desabamento, enquanto aplicativos de atendimento permitem que a sociedade dirija suas demandas ao poder público, por exemplo. “Inovação e tecnologia são palavras de ordem para o Estado oferecer mais para atender a demanda dos cidadãos com menos”, afirma a gerente Vanessa Almeida, da Área de Tecnologia da Informação da instituição.