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Por: Agência BNDES de Notícias
Publicação:13:38 29/12/2023 |INOVAÇÃO |SAÚDE
Ultima atualização: 13:42 04/01/2024
Em um avanço histórico na pesquisa médica, o Brasil desenvolve uma vacina inovadora contra a Covid-19, que utiliza tecnologia de RNA mensageiro (RNAm) desenvolvida pela Fundação Oswaldo Cruz. O projeto, executado pela Fiocruz, é gerenciado pela fundação a ela vinculada, a Fundação para o Desenvolvimento Científico e Tecnológico em Saúde (Fiotec). Nesta primeira fase, é previsto um investimento de R$ 51 milhões, sendo R$ 30 milhões não reembolsáveis do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e R$ 21 milhões captados com outros parceiros privados.
O apoio do BNDES abrange a conclusão do desenvolvimento experimental do imunizante, a produção de lotes piloto para ensaios clínicos e a realização dos estudos clínicos de fase I que buscam demonstrar a segurança do uso em humanos. A expectativa da Fiocruz é de que a vacina esteja disponível no Sistema Único de Saúde daqui a 3 anos.
Os recursos do BNDES são oriundos do Fundo de Desenvolvimento Técnico Científico (BNDES Funtec), que fornece apoio financeiro não reembolsável a projetos de pesquisa aplicada, desenvolvimento tecnológico e inovação executados por instituições tecnológicas, de acordo com os focos de atuação definidos pelo banco. O bom desempenho da vacina nos estudos clínicos validará a tecnologia de RNAm desenvolvida pela Fiocruz, abrindo possibilidade para o desenvolvimento de outras vacinas pela fundação.
"A plataforma tecnológica desenvolvida pela Fiocruz representa importante conquista do sistema de saúde brasileiro, na medida em que torna o país mais preparado para o enfrentamento de futuras emergências de saúde pública, com mais autonomia e mais celeridade no desenvolvimento de novas vacinas”, ressaltou o superintendente da Área de Desenvolvimento Produtivo, Inovação e Comércio Exterior do BNDES, João Paulo Pieroni.
Revolução tecnológica - A tecnologia de RNAm é vista como uma revolução na medicina, pois além de ter se mostrado eficaz no combate à Covid-19, apresenta-se como tecnologia potencialmente mais segura, rápida e eficaz para o desenvolvimento de novas vacinas e tratamentos. Diferentemente das vacinas tradicionais, que utilizam vírus inativado (como a vacina da gripe) ou atenuado (como a do sarampo), as vacinas de RNAm fornecem uma "instrução" genética para o sistema imunológico produzir anticorpos.
"A principal vantagem da vacina de RNAm é produtiva. A vacina tradicional, de sarampo por exemplo, carrega o vírus vivo, só que mais fraco. Para obter o vírus enfraquecido, há exigência de um sistema produtivo mais caro e mais difícil, o que também demanda maior biossegurança para conter o agente", explicou a líder científica e gerente de projeto da Fiocruz, Patrícia Cristina Neves.
No caso da Covid-19, as vacinas de RNAm ensinam o corpo humano a combater o coronavírus, simulando o mesmo processo de exposição ao vírus, mas sem causar a doença. Assim, o agente não precisa ser cultivado em laboratório, basta decifrar seu código genético para produzir em escala industrial. Por este motivo, a tecnologia de RNA é percebida globalmente como a solução mais adequada para enfrentar emergências em saúde pública.
A tecnologia apresenta ainda as seguintes vantagens: valor mais acessível de desenvolvimento e alto rendimento, uma vez que é possível produzir muitas doses por litro. A validação preliminar da tecnologia é esperada, abrindo caminho para fornecer ao Sistema Único de Saúde (SUS) uma vacina de menor custo. Além disso, a partir dela será possível desenvolver novas vacinas e medicamentos.
"Para o BNDES, investir na vacina de RNAm da Fiocruz é contribuir para aumentar a autonomia do Brasil em saúde. Hoje há uma corrida global pela incorporação do RNAm na produção de vacinas, muito concentrada nos Estados Unidos, China, Alemanha e Dinamarca", destacou o diretor de Desenvolvimento Produtivo, Inovação e Comércio Exterior do BNDES, José Luis Gordon.
A vacina será produzida no Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos BioManguinhos/Fiocruz. A expectativa é de que a Fiocruz se torne o principal centro para o desenvolvimento e produção de vacinas de RNAm na América Latina.
"Enquanto projeto estratégico para o país, o principal ganho é o domínio tecnológico para a produção, aí que está o real valor agregado da vacina de RNAm. Dominar uma tecnologia na fronteira do conhecimento é algo raro no Brasil. Há também o acordo da Fiocruz com a OMS de transferir a tecnologia para produção da vacina contra a Covid-19 para países da América Latina e Caribe", disse o coordenador geral de captação de recursos da Fiocruz, Luis Donadio.
Pesquisadores responsáveis pelo desenvolvimento da plataforma de RNAm na Fiocruz já começaram a prospectar a viabilidade de sua aplicação para vacinas preventivas para outras doenças. Segundo eles, o imunizante poderá ser utilizado contra raiva, influenza, zika, HIV, malária, tuberculose, citomegalovírus e vírus respiratório sincicial (VRS – bronquiolite) e em aplicações terapêuticas para tratamento de câncer, doenças genéticas raras, alergias e doenças autoimunes.