Concurso BNDES Pequena África premia projetos urbanísticos que valorizam cultura afro-brasileira no Rio

  • Edital selecionou projetos liderados por arquitetos e urbanistas negros com foco em patrimônio, cultura e mobilidade urbana
  • Propostas vencedoras serão analisadas para integrar a estruturação do Distrito Cultural Pequena África

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) anunciou, nesta quarta-feira, 25, os três projetos vencedores do Concurso BNDES Pequena África. A iniciativa busca promover a valorização cultural e a requalificação urbana da área conhecida como Pequena África, localizada na zona portuária do Rio de Janeiro, por meio da implantação de novos equipamentos e da criação de uma identidade urbana única na cidade.

Lançado em março, o edital foi direcionado a equipes lideradas por arquitetos e urbanistas negros e recebeu propostas que contemplavam desde soluções arquitetônicas e estratégias de mobilidade até ações culturais, educativas e de inovação tecnológica. Os projetos deveriam contribuir para a preservação do patrimônio, o fortalecimento da economia criativa e a ampliação do acesso à cultura na região.

Foto: André Matheus/Arquivo

O primeiro lugar foi conquistado pelo projeto “Pequena África: Memória Continental”, liderado pela arquiteta americana Sara Zewde, cofundadora do Studio Zewde e professora na Harvard Graduate School of Design. A proposta foi reconhecida pelo júri por reconectar simbolicamente os laços da diáspora africana com elementos urbanísticos, religiosos e ambientais da região. A equipe receberá um prêmio de R$ 78 mil.

O segundo colocado, “Pequena África: Território Akpalô”, dos arquitetos brasilienses Carlos Henrique Magalhães de Lima e Júlia Huff Theodoro, propõe intervenções dispersas e integradas ao tecido urbano, com base em referências históricas e culturais locais. O projeto foi premiado com R$ 39 mil.

O terceiro lugar ficou com o projeto “Sankofa e a Trama da Pequena África”, desenvolvido pelo arquiteto Clovis e o escritório Patrícia Akinaga Arquitetura Paisagística, Desenho Urbano e Planejamento. O trabalho foca na integração dos percursos culturais da região, especialmente o entorno do Cais do Valongo, e foi premiado com R$ 13 mil.

Além dos prêmios em dinheiro, que totalizam R$ 130 mil, foram concedidos certificados de reconhecimento e duas menções honrosas às propostas dos arquitetos Bianca Naylor Rezende e Matheus Ribeiro Cunha.

“Este concurso, guiado pela perspectiva de arquitetos e urbanistas negros, propõe repensar o território valorizando a identidade local e construindo um futuro mais inclusivo. O fortalecimento da Pequena África faz parte de uma estratégia de desenvolvimento urbano e cultural que reconhece a importância histórica e simbólica dessa região na formação do Rio de Janeiro e do Brasil”, afirmou o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante.

Foto: André Telles/BNDES

Uma das vencedoras do concurso, a arquiteta Sara Zewde, destacou o potencial arquitetônico do local como símbolo da Diáspora Africana e da história da Pequena África que, segundo ela, transcende o Rio de Janeiro e o Brasil. “A arquitetura tem o papel de valorizar e amplificar essa riqueza cultural presente nos arredores do Cais do Valongo e a nossa proposta é usar água para reconectar o cais ao mar, criar um padrão em formato de trança usando o pavimento e com vegetação que vem do continente africano", explicou, sobre o seu projeto.

Foto: André Matheus/Arquivo

Valorização do território – O Concurso BNDES Pequena África integra um esforço mais amplo de estruturação do Distrito Cultural Pequena África, voltado à recuperação de espaços simbólicos, estímulo à economia criativa e promoção do acesso à cultura. A iniciativa é coordenada pelo Consórcio Valongo Patrimônio Vivo, liderado pelo escritório Jaime Lerner Arquitetos Associados e formado por especialistas das áreas de urbanismo, finanças, direito, museologia, arqueologia e comunicação.

Localizada na zona portuária do Rio, a região da Pequena África abrange pontos históricos como a Pedra do Sal, o Cais do Valongo (Patrimônio Mundial pela Unesco), o Jardim Suspenso do Valongo, o Largo da Prainha, o Museu da História e Cultura Afro-Brasileira, o Cemitério dos Pretos Novos e a Casa da Tia Ciata. O projeto visa potencializar esse legado por meio de intervenções urbanísticas, novos equipamentos culturais e ações de inclusão social.

Segundo Valeria Bechara, representante do consórcio responsável pela coordenação técnica do distrito, o concurso vai além de uma simples oportunidade de apresentar projetos urbanos. “É um passo essencial para fortalecer a Pequena África como um espaço que une passado, presente e futuro da cultura afro-brasileira. Cada proposta tem o potencial de transformar a região em um ‘museu de território’, onde a memória histórica se integra à vitalidade do espaço urbano”, afirmou.

“Os projetos premiados apresentam densidade no conhecimento do território e nas propostas de estruturação da área como um todo, com soluções que podem ser replicadas por toda extensão do distrito cultural da Pequena África”, afirmou o assessor da presidência e coordenador da Iniciativa Valongo do BNDES, Marcos Motta.

Foto: André Matheus/Arquivo

Seleção – A comissão avaliadora foi composta por cinco especialistas indicados por instituições parceiras: Humberto Kzure (IAB-RJ), José Antonio Mendes (CAU-RJ), Sinara Rúbia (Comitê Gestor do Cais do Valongo), Letícia von Krüger (IPHAN-RJ) e Jaqueline Matta (Prefeitura do Rio de Janeiro). Foram analisadas 13 propostas que atenderam aos critérios do edital. Os três projetos vencedores agora serão examinados pelo consórcio coordenador e, os com maior aderência, poderão ser incorporadas ao projeto de estruturação do Distrito Cultural.

 

 

Acesse o hotsite do Concurso BNDES Pequena África.

Foto: André Telles/BNDES

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