Seminário BNDES-Petrobras: para especialistas, renda do petróleo deve financiar transição energética
A busca por uma transição energética justa no Brasil e como isso perpassa a exploração de petróleo na Margem Equatorial foram destaques nos discursos dos presidentes do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Aloizio Mercadante, e da Petrobras, Jean Paul Prates, na abertura do seminário “Caminhos para Transição Energética Justa no Brasil”, realizado pelas duas instituições nesta quarta-feira, 11, no Rio de Janeiro.
“Nós não temos ainda um combustível que substitui totalmente o petróleo, que continua sendo uma dimensão fundamental da matriz energética”, afirmou Mercadante. Segundo ele, nas previsões da descarbonização da Organização das Nações Unidas (ONU), em 2050, a expectativa é de que 17% da matriz energética ainda seja de combustível fóssil. “O petróleo vai continuar existindo com essas novas fontes de energia que queremos impulsionar para serem cada vez mais presentes na economia do futuro”, estimou.
Segundo ele, com reservas provadas significativas e potencial de se tornar a segunda economia em produção de petróleo, a América Latina desperta o interesse do setor energético. “Nós temos 2.200 quilômetros de costa, do Rio Grande do Norte ao Amapá, onde já se descobriram reservas provadas de 11 bilhões de barris, com perspectiva de produzir 1,5 milhão de barris por dia, tudo isso naquela fraçãozinha ali na Amazônia”, sinalizou.

Para o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, “a confirmação da existência de petróleo na margem nos colocará a responsabilidade de decidir, como estado brasileiro, se queremos de fato produzir ou não. E, ao produzir, uma terceira responsabilidade, que é para onde irão as receitas governamentais advindas daquelas áreas.” Ele disse que, em 2030, começa a cair a produção do pré-sal, e o país vai precisar de outra fonte de recursos para a transição.

Painel mediado pela diretora de Infraestrutura e Mudança Climática do BNDES, Luciana Costa, aprofundou a discussão sobre o tema. O professor da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), Allan Kardec, apresentou um panorama histórico da exploração de petróleo e outras fontes de energia. “As grandes economias do planeta jamais recuaram da soberania energética, nunca recuaram de ter sua própria energia, porque energia é PIB [Produto Interno Bruto], é povo”, analisou.
“Temos quinze poços planejados para os próximos cinco anos, um investimento total de U$ 3 bilhões só na área exploratória, onde a gente entende que alguns poços podem não ter sucesso, mas outros terão”, afirmou o diretor de Exploração e Produção da Petrobras, Joelson Mendes. “A partir desse sucesso, a gente parte para uma fase chamada de ‘desenvolvimento da produção’, caso a sociedade brasileira, através de seus órgãos reguladores, nos dê licença para ir buscar essa fase de produção”, completou.
O governador do Amapá, Clécio Luís, abordou a expectativa de desenvolvimento regional com a exploração da Margem Equatorial. “Não é possível mais ter um estado com os melhores indicadores ambientais e os piores indicadores sociais e econômicos, nós queremos aproximar esses indicadores”, defendeu o governador, que projeta diversificação da matriz econômica e geração de trabalho e renda a partir da Amazônia amapaense.

Licença - Prates esclareceu que não há conflito intergovernamental sobre a exploração na Margem Equatorial e que o processo com o IBAMA se deu respeitando as próprias mudanças que ocorreram no órgão. Ele afirmou que a licença nessa fase exploratória foi concedida após avaliação pré-operacional bem-sucedida, em que foi realizado um simulado de um grande vazamento. “Foram mais de mil pessoas envolvidas, embarcações, aviões, drones, helicópteros, um serviço enorme. Temos a expectativa legítima de ainda no primeiro semestre do ano que vem ou, no mais tardar, ao longo do ano, ir rumo ao Amapá para perfurar a Margem Equatorial”, revelou.
“Ninguém tem dúvida de que isso é importante, que a Petrobras é o melhor, mais habilitado operador de petróleo do mundo para fazer essa operação e que, se isso não acontecer agora, não acontecerá mais. E, se não acontecer com a Petrobras, ninguém mais fará. É essa jornada que nós estamos trilhando”, assegurou Prates.
O evento, encerrado pelo governador do Pará, Helder Barbalho, abordou, ao longo do dia, temas como a importância do petróleo e gás para uma transição energética justa e ações rumo à economia de baixo carbono. A íntegra de todos os painéis pode ser conferida no YouTube:
Foto: Divulgação BNDES