Presidente do BNDES defende atuação de bancos públicos no enfrentamento das urgências climáticas
- Em painel no U20 Rio Summit, Aloizio Mercadante destaca que transição energética é cara e depende de políticas públicas
- Participantes debatem desafios para recursos climáticos chegarem até as cidades
O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Aloizio Mercadante, defendeu nesta quinta-feira, 14, que os bancos públicos são instrumentos relevantes para o combate às emergências climáticas e para mudanças no padrão de consumo baseado em emissão de gases de efeito estufa. A avaliação foi feita durante o painel “Desbloqueando fluxos financeiros — o papel dos fundos, instituições financeiras e governos nacionais no financiamento climático subnacional para soluções urbanas”, na programação do U20 Rio Summit, no Rio de Janeiro.
“Os bancos públicos são decisivos para enfrentar essa crise. Não há outro instrumento mais ágil e mais comprometido com essa pauta”, disse Mercadante, ressaltando a necessidade de os bancos alinharem seus balanços com as metas do Acordo de Paris. “O Brasil já é líder em matriz energética, com o modelo mais limpo e renovável do G20. Queremos liderar também a agenda ambiental”, afirmou.
Mercadante destacou que, pela primeira vez na história, o novo modelo de energia que se busca no mundo, com fontes sustentáveis, é mais caro do que o anterior. “Essa transição é muito onerosa e não se faz só pelo mercado. Precisamos de políticas públicas e de estímulos de bancos de desenvolvimento”, destacou.
O Fundo Clima foi citado como um case de sucesso do BNDES pelo moderador do evento, Henrique Evers, gerente de Desenvolvimento Urbano no WRI Brasil. Além do Fundo Clima, Mercadante também destacou o recorde de liberações do Fundo Amazônia entre 2023 e 2024, o lançamento do edital Restaura Amazônia , em parceria com a Petrobras, com R$ 100 milhões não reembolsáveis para restaruração ecológica da região, e a criação da Letra de Crédito do Desenvolvimento (LCD), título de crédito de livre negociação no mercado emitido apenas por bancos de desenvolvimento no país, como o BNDES, com limite anual de captação de R$ 10 bilhões por instituição. “Se não tivermos esses mecanismos de fundo público, não vamos avançar”, avaliou.
Cidades - O presidente do BNDES ressaltou que as cidades devem ter mais compromisso e exercer mais pressão sobre os governos nacionais. “Temos que nos dedicar a apresentar bons projetos nas cidades, tecnicamente consistentes, viáveis e financiáveis”, destacou. Citando o economista polonês Michal Kalecki, ele defendeu que a qualidade do investimento é que determina o crédito disponível, não o contrário: “Se tenho projetos robustos, vou encontrar recursos”.
Nas cidades, a prioridade do BNDES é reconstruir, adaptar e mitigar as urgências climáticas. “Precisamos estudar cidades-esponja, criar espaços de absorção de água da chuva, repensar e transformar a concepção do espaço urbano”, avaliou, destacando a atuação do Banco no Rio Grande do Sul, na região de Mariana (MG) e no acesso a água potável no Nordeste, além do financiamento para implementação de Centros de Operações nas grandes cidades.
Outros participantes do painel ressaltaram a relevância dos municípios no enfrentamento da questão climática. “Os cidadãos vivem em cidades, não nas nações. Prefeitos e governadores do mundo inteiro precisam participar dessa jornada difícil que é a descarbonização da economia”, disse a presidente da Fundação Europeia para o Clima, Laurente Tubiana. Para ela, por ser um dos maiores bancos de desenvolvimento do mundo, o BNDES pode diminuir o risco cambial para municípios e estados.
Chitembo Chunga, especialista sênior do Fundo Climático de Investimento, lembrou que as cidades ainda não estão incluídas nesse debate. "É preciso trazê-las à mesa, garantindo que vários instrumentos e abordagens trabalhem ao mesmo tempo. Precisamos ter a mesma ambição climática”, destacou.
Sul Global - Mercadante pediu ainda que o G20 e a COP30 cobrem dos países riscos mais responsabilidade, mais compromisso e mais recursos para o Sul Global. Josué Tanaka, professor do Grantham Research Institute, concordou: “A solidariedade entre nações é lenta e insuficiente. Tem crescido, mas ainda está muito limitada”.
Foto: Beatriz Gimenes / Divulgação BNDES