Mudanças climáticas: Al Gore e Mercadante defendem cooperação multilateral entre países e investimentos privados
- Evento na sede do BNDES reúne dois dos principais atores globais no debate sobre sustentabilidade e democracia
- Al Gore: emergência climática não está sendo compreendida pelo número suficiente de pessoas
- Mercadante: o papel do banco público é catalisar parcerias com o setor privado
O ambientalista Al Gore, ex-vice-presidente dos EUA e ganhador do Prêmio Nobel da Paz, afirmou na terça-feira, 12, na sede do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), no Rio, que a gravidade da crise climática é muito grande e ainda não está sendo compreendida pelo número suficiente de pessoas. “Talvez este seja o desafio mais complicado que a humanidade já enfrentou”, disse.
As declarações foram feitas durante o evento “Mudança Climática, Desenvolvimento Sustentável e Democracia", em formato de diálogo entre Gore e o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante – dois dos principais atores globais no debate sobre sustentabilidade e democracia.
No evento, Mercadante e Gore enfatizaram a necessidade de ampliar as frentes de cooperação multilateral e de diálogo entre países para avançar não apenas na agenda climática, mas também em outros problemas enfrentados globalmente, incluindo o comércio mundial e a escalada de conflitos armados. “A construção de princípios e compromissos vinculantes, com fortalecimento das instituições multilaterais, é muito melhor para a humanidade do que assistir ao retorno a uma ordem unilateral autoritária”, avaliou Mercadante.
Os dois palestrantes também destacaram a necessidade de atrair investimentos privados para fazer frente às emergências climáticas. Al Gore elogiou o modelo do BNDES, que mobiliza recursos privados com mitigação de riscos para os envolvidos. “O papel do banco público é catalisar e construir parcerias com o setor privado”, resumiu Mercadante, citando a retomada da política do BNDES para investimento em empresas, com foco nos setores de descarbonização, economia verde e inovação digital.
Segundo Al Gore, cerca de 175 milhões de toneladas de poluentes gerados pela atividade humana são lançadas diariamente na atmosfera. Ele lembrou que isso cria efeitos negativos em massa, incluindo impactos para os oceanos, desertificação de áreas e migrações forçadas. Entre as formas de reduzir as emissões de gases de efeito estufa, o ex-vice-presidente mencionou aço verde, cimento verde e meios de transporte menos poluentes.
Foto: André Telles/BNDES
COP30 – Al Gore manifestou otimismo com os resultados da COP30 e avaliou que o Brasil tem condições de se posicionar no centro do debate, mas apontou a importância de evitar que as negociações fiquem estagnadas. Mercadante destacou a relevância estratégica de realizar o evento na Amazônia, mas também defendeu uma maior articulação dos movimentos sociais em eventos anteriores à COP.
A cultura de paz foi um dos aspectos destacados pelo presidente do BNDES: “Apenas 15 países no mundo mantêm relação com todas as outras nações, e o Brasil é um deles”, comentou.
Mercadante destacou ainda a extensa atuação do BNDES no financiamento de ações relacionadas aos extremos climáticos. No caso do Rio Grande do Sul, por exemplo, o Banco teve papel decisivo na reconstrução do Estado, com aporte de R$ 29 bilhões. O BNDES também faz a gestão do Fundo Rio Doce, que conta com R$ 49 bilhões para reparação do desastre ambiental ocorrido em Mariana (MG) em 2015. Em outra frente, o Banco já aprovou mais de R$ 1 bilhão no Fundo Amazônia em 2025.
O presidente também lembrou a liderança do BNDES no financiamento a biocombustíveis, energias renováveis, eletromobilidade e inovação. Segundo levantamento da Bloomberg, o BNDES é o maior financiador global de projetos de energia limpa. O próximo horizonte é mobilizar recursos para avançar na recuperação dos oceanos. Segundo Mercadante, 14% dos corais do planeta já foram perdidos.
Para Al Gore, o BNDES é um modelo para outros países e está pavimentando o caminho para a resolução da crise climática. “Vocês estão fazendo o que muitos países não conseguiram, trazendo capital privado e com risco reduzido. Os servidos e as empresas parceiras do BNDES precisam estar orgulhosos de fazerem parte do Banco. Espero que todos entendam como essa instituição é especial”, disse.
Foto: André Telles/BNDES
Inteligência artificial – Sobre o consumo de energia associado ao uso de inteligência artificial, o ambientalista disse que acreditar que a demanda deve diminuir nos próximos anos, com o desenvolvimento de novas tecnologias. Para ele, trata-se de um tema que exige atenção, mas não é motive de alarme.
Al Gore comentou ainda que é preciso buscar mecanismos de ajuste na contabilidade de créditos de carbono, incluindo formas de precificar os prejuízos das emissões de carbono. Mas lembrou que esse tipo de iniciativa – com novos impostos – enfrenta resistências nos EUA e outros países.
Mercadante avaliou que esse mercado tem muito potencial de crescimento, mas lembrou a necessidade de ter muito rigor na avaliação dos créditos.
Tarifaço – O presidente do BNDES também criticou o tarifaço imposto pelo governo Trump contra o Brasil, exaltou o bloco do Brics como uma forma de estimular a cooperação entre os países do Sul Global e defendeu a regulação do setor de big techs como forma de proteger a sociedade. Segundo o presidente, o BNDES está pronto para apoiar as empresas atingidas pelas medidas tarifárias.
“Precisamos olhar para os EUA naquilo que o país tem de valores mais profundos: liberdade, compromisso ambiental e sustentabilidade. E Al Gore é um belo embaixador desses EUA de que o mundo sente saudades”, comentou Mercadante.
Foto: André Telles/BNDES