BNDES e FLACSO dão início ao II Seminário Internacional de Estudos da China Contemporânea
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e a Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso) deram início nesta quinta-feira, 02, ao II Seminário Internacional de Estudos da China Contemporânea, com o tema “China, América Latina e Caribe no novo reordenamento global”. A programação, que se estende por dois dias, está dividida em quatro painéis sobre soberania digital; crise climática; cooperação cultural, acadêmica e científica; e rotas de integração e dilemas regionais.
O evento mobiliza a participação de autoridades do governo brasileiro e do governo chinês, formuladores de políticas públicas e acadêmicos, além de representantes de think tanks e do setor privado. As principais reflexões serão compiladas em uma publicação especial que oferecerá subsídios para o desenho de políticas públicas e estratégias de cooperação entre China e América Latina e Caribe. O diretor de planejamento e relações institucionais do BNDES, Nelson Henrique Barbosa, participou da mesa de abertura.
"O crescimento da China foi muito importante para o crescimento brasileiro. Ajudou o Brasil em várias frentes e continua ajudando. Mas para que essa integração seja sustentável e progressista, ela tem que ir além da complementaridade. Ela tem que ir para a integração produtiva: mais comércio intraindústria, mais geração de emprego de qualidade nos dois países. Nós já estamos avançando para isso. Já vemos várias empresas chinesas hoje investindo no Brasil, vindo para a produção industrial no Brasil. Acho que esse é o exemplo que a gente pode dar ao mundo", analisou.
Nelson Barbosa se pronuncia na mesa de abertura
Foto: André Telles / BNDES
Nelson Barbosa destacou ainda a importância da cooperação acadêmica e financeira no marco das relações entre Brasil, América Latina e China. "Temos hoje o desafio da tecnologia, da digitalização, da inteligência artificial, que já está mudando a nossa vida e vai mudar ainda mais. É só lembrar como era a vida antes de termos o smartphone. Como se mudou em cerca 10, 15 anos? Imagina o que ainda vai mudar com a inteligência artificial. Isso exige investimento e tecnologia. Exige também uma coisa nova que é como que a gente vai regular, como que a gente vai tratar disso. A China está bem avançada, está liderando o mundo em várias frentes. E o Brasil tem espaço também para participar disso, aprender com a China e desenvolver práticas adaptadas para a América Latina".
Segundo dados da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), o comércio de bens entre a América Latina e a China multiplicou-se por 35 entre 2000 e 2022, passando de pouco mais de US$ 14 bilhões para cerca de US$ 500 bilhões. No caso do Brasil, o comércio bilateral com a China alcançou em 2023 a marca de US$ 181 bilhões, com um superávit de aproximadamente US$ 63 bilhões.
O embaixador da China no Brasil, Zhu Qingqiao, destacou a importância do Fórum China-Celac, mecanismo de cooperação multilateral criado em 2015 pela China e pela Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac). Reunindo 33 países, ele serve como plataforma para promover o diálogo político, alinhar estratégias de desenvolvimento e aumentar investimentos e comércio, com foco em infraestrutura, indústria e serviços.
Embaixador da China, Zhu Qingqiao, exalta a cooperação multilateral
Foto: André Telles / BNDES
"A China vai usar o Fórum China-Celac como o principal canal para ampliar a cooperação em geral. Vamos incentivar e apoiar empresas e instituições financeiras chinesas a participarem do planejamento e da construção da infraestrutura, promovendo assim a conectividade de toda a região. Promover o diálogo e a troca entre diferentes civilizações é um caminho para viabilizar uma vida melhor para os povos. A China está disposta a aprofundar esse intercâmbio com os países da América Latina e Caribe".
Mudanças rápidas - Fundada em 1957, a Flacso é um organismo internacional, autônomo e de natureza intergovernamental, fundado em 1957. Atualmente, é composta por 18 Estados-membros que desenvolvem atividades acadêmicas, pesquisas e modalidades de cooperação. De acordo com a secretária-geral da Flacso, Rebecca Igreja, as mudanças rápidas na geopolítica, a consolidação de novos polos de poder, a crise climática, a transição energética e as disputas em torno da tecnologia digital estão transformando as dinâmicas sociopolíticas e econômicas regionais e globais e o papel das instituições.
Mesa de abertura foi composta por Zhu Qingqiao, Nelson Barbosa e Rebecca Igreja
Foto: André Telles / BNDES
"Para a América Latina e o Caribe, compreender essa transição significa revisitar a própria trajetória e a partir dela repensar nosso posicionamento frente a essa nova realidade. Uma trajetória marcada por crises econômicas e políticas, regimes autoritários e persistente desigualdade social, mas também por processos de resistência popular, criatividade institucional e ousadia política. A relação com a China ocupa um lugar decisivo nesse processo. Não apenas pelo comércio e pelos investimentos crescentes desde os anos 2000, mas porque nos convida a repensar nossas próprias categorias de análise, nossas ferramentas metodológicas e até a forma como interpretamos o mundo ao nosso redor e a nós mesmos", disse Rebecca Igreja.
De acordo com ela, o evento foi pensado como um espaço de reflexões abrangentes. "O que significa desenvolvimento, integração, soberania, sustentabilidade nesse novo contexto? É possível responder a essas perguntas apenas com conceitos herdados do século XX? Creio que não. Precisamos de um esforço deliberado de saberes cruzados, articular tradições intelectuais, experiências históricas, instrumentos metodológicos de diferentes contextos, colocando em diálogo a reflexão latino-americana e a chinesa. É disso que trata esse seminário".
"Vivemos um tempo de reordenamento acelerado. As mudanças rápidas na geopolítica, a consolidação de novos polos de poder, a transição energética, as disputas em torno da tecnologia digital e a crise climática estão transformando as dinâmicas sociopolíticas e econômicas nacionais e globais. Para a América Latina, compreender essa transição significa revisitar a própria trajetória e, a partir dela, repensar nosso posicionamento frente à nova realidade", disse Rebecca.
Diretor do BNDES, Nelson Barbosa, participa da mesa de abertura
Foto: André Telles / BNDES