BNDES avança em diversidade e inclusão de mulheres, pessoas negras e PCDs

  • Empresas públicas têm responsabilidade maior na agenda de equidade, diz Mercadante em seminário sobre direitos humanos

  •  Ministra dos Direitos Humanos: “Não somos inimigos das empresas. Queremos as organizações do nosso lado”

  •  "Estatais não são peso, são patrimônio", defende ministra da Gestão

 

O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Aloizio Mercadante, apresentou nesta segunda-feira, 15, resultados concretos da política de diversidade, equidade e inclusão do Banco. Segundo Mercadante, o percentual de funcionários negros passou de 14% para 25% do total em 2025; a representatividade feminina aumentou de 13% para 37% na alta liderança e de 19% para 34% na média liderança; e a presença de pessoas com deficiência passou de 1,5% para 4%. “Como banco público, o BNDES tem que refletir a diversidade da sociedade”, defendeu o presidente.

As declarações foram feitas na abertura do seminário “Democracia e Direitos Humanos: Empresas Juntas por um Brasil Mais Igualitário”, organizado pelo BNDES em parceria com o Ministério da Gestão e Inovação em Serviços Públicos (MGI), Instituto Ethos, Comissão Arns, Fundação Getúlio Vargas e com apoio da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp).

“As empresas públicas têm uma responsabilidade ampliada na agenda de diversidade e inclusão. Ao longo da nossa gestão, temos feito um grande esforço para avançar na promoção dos direitos humanos, sempre concebidos como uma dimensão estruturante do desenvolvimento. E o setor privado pode escalar boas práticas para a gente impulsionar essa agenda, começando pelo ambiente de trabalho. Em um país tão desigual como o Brasil, o grande desafio é criar oportunidades para todos”, declarou Mercadante, destacando que o BNDES é signatário de coalizões importantes como a Iniciativa Empresarial pela Igualdade Racial, o Movimento pela Equidade Racial e o Pacto pela Diversidade, Equidade e Inclusão nas Empresas Estatais Federais.

Como exemplo de iniciativas internas, o presidente citou a criação das comissões de mulheres, de raça e etnia, de PCDs, de LGBTQIAPN+, de diversidade regional e de prevenção e combate ao assédio, entre outras.

Outro destaque foi a conquista do 1º lugar na categoria Recrutamento e Seleção no Prêmio Melhores Empresas e Líderes da Diversidade, promovido pela Universidade Zumbi dos Palmares, por conta da reserva de 30% das vagas para pessoas negras no concurso público realizado em 2025.

Durante o discurso, Mercadante chamou ao palco dois funcionários aprovados nesta seleção. Um foi o arquiteto Tiago Coutinho, que ficou em 1º lugar na ampla concorrência e também tirou a maior nota entre todas as carreiras, e outro o advogado Akintolá Assis, cujo pai trabalhou como operário na construção da sede do Banco.

Cotas – Aloizio Mercadante também criticou a recente decisão da Assembleia Legislativa de Santa Catarina, que aprovou um projeto de lei para acabar com a adoção de cotas e ações afirmativas em universidades estaduais. “É inaceitável esse tipo de retrocesso em um país como o Brasil. Nós queremos respeito à diversidade e ações afirmativas, que são princípios fundamentais da construção de uma sociedade mais generosa e igualitária. O que nós precisamos é criar oportunidades”, defendeu Mercadante, que era ministro da Educação quando foi criada a Lei de Cotas em universidades federais, em 2012.

Foto: André Telles/BNDES

A ministra Macaé Evaristo (Direitos Humanos e Cidadania), que também trabalhou na instituição da Lei de Cotas, disse que a melhor forma de reagir é nas urnas. “No ano que vem, teremos que fazer uma escolha pela democracia”, afirmou. Macaé também ressaltou que as empresas podem escolher se serão violadoras dos direitos humanos ou agentes da transformação. “Queremos as empresas do nosso lado, nos ajudando a tecer um mundo melhor para cada um. Somos um país diverso. É muito melhor para todos se a gente conseguir instituir dentro das nossas empresas e corporações um ambiente plural, porque isso só potencializará a incrível imaginação e inventividade do nosso povo”, avaliou.

Estatais – Também na abertura do seminário, a ministra Esther Dweck (Gestão e Inovação em Serviços Públicos) defendeu as estatais como um ativo estratégico para o desenvolvimento sustentável e para a criação de justiça social. Segundo ela, as estatais federais representam 5,4% do PIB, detêm R$ 6,7 trilhões em ativos e geraram R$ 116,6 bilhões de lucro líquido em 2024. Elas empregam mais de 436 mil pessoas e investiram R$ 96 bilhões na economia no último ano.

Foto: André Telles/BNDES

A ministra também reforçou a importância de entender a diferença entre os conceitos de déficit fiscal e prejuízo empresarial – que, na sua visão, são frequentemente confundidos no debate público. “Das 20 estatais não dependentes incluídas nas estatísticas do Banco Central, 15 apresentam lucro. Dessas 15, 11 também têm déficit. Isso acontece porque elas aumentaram gastos importantes, principalmente investimentos e pagamento de dividendos à União”, explicou.

Entre janeiro de 2023 e junho de 2025, essas 20 estatais investiram R$ 12,5 bilhões – aumento de quase 500% em relação aos R$ 2,1 bilhões investidos nos primeiros anos do mandato anterior – e recolheram R$ 4,4 bilhões em dividendos e juros para o governo federal, aumento de 316%. “As estatais não são um peso para a sociedade. Pelo contrário, são um patrimônio e um ativo para o desenvolvimento sustentável com responsabilidade econômica, social e ambiental”, afirmou.

Esther Dweck também exaltou o papel do BNDES na produção de bens de capital, que gera empregos de qualidade, e nos estudos para reestruturação das empresas públicas. “A gestão de Mercadante tem feito um salto gigantesco na capacidade de o BNDES atuar no Estado brasileiro”, avaliou. Ela também avaliou o cenário econômico, com retomada do crescimento e redução da desigualdade, além das expectativas pela queda da taxa Selic e pelos efeitos da mudança no Imposto de Renda. “Agora, a discussão é aumentar a qualidade do emprego. Para isso, o papel das empresas é essencial”, disse.

A ministra também defendeu o fim da violência contra as mulheres. “Não há desenvolvimento, democracia e direitos humanos sem enfrentar a violência contra as mulheres”, disse. E fez um convite às empresas presentes para “revisar conselhos e lideranças à luz da diversidade brasileira, avaliar investimentos à luz da transição ecológica e planejar políticas internas com ambientes seguros”.

Avanços e compromissos – Durante painel sobre os avanços das empresas em diversidade e inclusão, a secretária de Coordenação e Governança das Empresas Estatais do Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos, Elisa Leonel, destacou a diversidade como elemento indissociável do fortalecimento e da boa governança das empresas públicas. “Em economias desenvolvidas, temos estatais fortes e bem geridas. Não vemos como fazer isso sem a agenda de diversidade”, disse. Ela também defendeu as estatais como motores do desenvolvimento econômico e social, com papel complementar ao setor privado.

Foto: André Telles/BNDES

Na mesma linha, a diretora de Pessoas, TI e Operações do BNDES, Helena Tenório, destacou que a diversidade deve ser encarada como vetor estratégico e defendeu o diálogo entre empresas, sociedade civil e academia para consolidar conquistas e inspirar novas ações.

A diretora-executiva do Movimento pela Equidade Racial (Mover), Natália Paiva, apontou que um dos desafios é trazer o tema de empoderamento econômico para além da discussão sobre gestão de pessoas. “Precisamos tirar o olhar apenas da área de RH e entender como a diversidade se articula de forma transversal em toda a empresa e no valor que ela gera”, afirmou.

Para o diretor-geral da Iniciativa Empresarial pela Igualdade Racial, Rafael Vicente, a “coragem” das estatais é fundamental para trazer avanços. “As estatais têm uma série de travas legais, mas estão muito à frente da maioria das empresas privadas em termos de diversidade”, avaliou. O diretor-presidente do Instituto Ethos, Caio Magri, deixou uma proposta: a construção de um espaço de troca e diálogo concretos entre estatais e empresas privadas.

Representando a Petrobras, a gerente de Cultura, Clima Organizacional e Diversidade, Tiana Ellwanger, destacou o impacto da diversidade na inovação e na produtividade. “Um grande case é o campo de Búzios, onde conseguimos aumentar a produção em 20% após a atuação conjunta de uma equipe diversa na resolução de problemas”, disse.

Trabalho decente – O seminário também contou com um painel sobre o papel dos direitos humanos no horizonte das transformações do mundo do trabalho. A diretora de Crédito Digital para MPMEs do BNDES e presidente da Associação Brasileira de Desenvolvimento, Maria Fernanda Coelho, ressaltou a importância de enfrentar as desigualdades regionais. “No Brasil, precisamos pensar a diversidade como um grande capital. As instituições de fomento têm grande responsabilidade de reduzir as desigualdades regionais no acesso ao crédito”, afirmou.

Ela destacou duas iniciativas da ABDE na Amazônia. Uma é o levantamento que mapeou 159 instrumentos financeiros para financiar a bioeconomia na Amazônia Legal. Outra, o estudo que está levantando todos os CNPJS das bioindústrias da região. “Essas ações ajudam a levar crédito e possibilitam o trabalho decente”, disse.

Estado de Direito – Em palestra magna no evento, o presidente do Superior Tribunal de Justiça, ministro Herman Benjamin, defendeu que não há Estado de Direito pleno e inclusivo sem a defesa universal dos direitos humanos. Ele também defendeu o papel das instituições, como o BNDES, para assegurar a implementação do Estado de Direito com base nos ideais de justiça, igualdade e dignidade da pessoa humana.

O seminário também contou com palestra da empresária Luiza Helena Trajano, presidente do Conselho de Administração do Magazine Luiza, que destacou as iniciativas de inclusão da rede e voltou a defender a redução da taxa de juros. “A economia está dando sinais, mas não tem razão para os juros continuarem tão altos. Isso prejudica principalmente as médias e pequenas empresas, que geram muito emprego no país”, comentou.

Foto: André Telles/BNDES

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