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16:00 05/03/2020

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O efeito das crises sobre a indústria de transformação brasileira

 

O Brasil passou por duas crises no período entre 2001 e 2018: a primeira no biênio 2008-2009, quando houve recessão em 2009 (-0,1%); e a segunda no biênio 2015-2016, com recessões em 2015 (-3,5%) e em 2016 (-3,3%). Em média, nessas quase duas décadas, o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro cresceu 2,3% ao ano (a.a.) em termos reais, enquanto a expansão do PIB per capita foi de 1,2% a.a.

 

Diferentes no que diz respeito a suas causas, as crises de 2008-2009 e de 2015-2016 tiveram também consequências econômicas distintas. A última configurou-se como uma crise mais longa, com oito trimestres consecutivos de queda do PIB – 1º trim. de 2015 até 4º trim. de 2016 – e efeitos muito intensos sobre o mercado de trabalho – a taxa de desocupação passou de 6,5% no último trimestre de 2014 para 12% no último trimestre de 2016.

 

O peso da indústria de transformação na economia

 

A indústria de transformação (IT) brasileira foi atingida pelas duas crises, ainda que de forma distinta em relação aos setores afetados e à intensidade dos impactos. As crises não foram neutras em relação à estrutura produtiva, causando alterações na composição setorial da indústria e afetando diferentemente as principais regiões industriais do país.

 

Como mostra o gráfico a seguir, de modo geral o período não foi favorável para a IT. Sua taxa de crescimento foi menor do que a do PIB em sete dos nove anos considerados, igual em um (2013) e maior em um (2010).

 

Taxa de crescimento da indústria de transformação vs. produto interno bruto (PIB) – % ao ano

Clique para ampliar

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Fonte: Elaboração própria com base em IBGE. 

 

Como consequência, o peso da indústria de transformação na economia caiu de 16,6% em 2007 (um ano antes da crise de 2008-2009) para 12,2% em 2017 (um ano depois da crise de 2015-2016). Em virtude do maior dinamismo das outras indústrias, o peso da IT na indústria brasileira também diminuiu entre 2007 e 2017, passando de 61,2% para 57,4%.

 

Diferenças setoriais e regionais

 

Os dados da Pesquisa Industrial Mensal – Produção Física (PIM-PF) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram a evolução real da produção de diversos setores da IT. A partir desses dados, pode-se observar que alguns setores foram fortemente impactados nas duas crises – por exemplo, têxteis, borracha e plástico, produtos de metal, aparelhos e materiais elétricos, máquinas e equipamentos, veículos automotores, embarcações e aeronaves e produtos diversos. Outros, por sua vez, foram relativamente poupados: alimentos, bebidas, fumo, vestuário, produtos de madeira, derivados do petróleo, limpeza e higiene pessoal, perfumaria e cosméticos e informática, ótica e eletrônicos.

 

Uma vez que a IT não se distribui uniformemente pelo território, a heterogeneidade observada no caso setorial também se refletiu na dimensão espacial. Alguns dos principais estados industriais da federação tiveram impactos menos severos nas duas crises (AM, BA, PE e RJ), enquanto para outros o impacto foi sempre forte (ES, PA, PR, RS e SP).

 

Perspectivas do setor no século XXI

 

Nenhum fator, isoladamente, parece explicar a diferença entre as crises e a diversidade de seus respectivos impactos na IT, seja o grau de exposição à concorrência chinesa, seja o porte das empresas, seja ainda a intensidade tecnológica ou o peso do fator trabalho em cada setor (setores muito distintos sob esses pontos de vista, como a fabricação de produtos têxteis e a de veículos automotores, às vezes apresentam o mesmo grau de impacto). Assim, as duas décadas não são marcadas pelas especificidades de cada agente nem pelo contexto geral moldado pelas recessões, mas sim por uma complexa interação entre os níveis micro, meso e macro, bem como por fatores não econômicos.

 

As oscilações econômicas que têm marcado as duas primeiras décadas do século XXI revelaram-se capazes de causar um pequeno, mas não desprezível, efeito sobre o desenho da estrutura produtiva brasileira, o que no caso da IT resultou em menor peso na economia, alterações na composição intrassetorial e redefinição da distribuição no território.

 

Apesar das crises possivelmente terem acelerado a fragilização do setor, a indústria de transformação segue apresentando salários médios mais altos, grande potencial de criação de valor e vocação para dinamizar a economia brasileira. Por isso, não é possível negligenciá-la.  Ao contrário, é necessário estabelecer uma agenda de ganhos de produtividade e competitividade para o setor, com mais inovação e maior presença nos mercados globais, gerando benefícios para o desenvolvimento socioeconômico do país.

 

Esse texto é baseado no artigo O impacto heterogêneo das crises de 2008-2009 e 2015-2016 sobre os setores da indústria de transformação, do economista Job Rodrigues Teixeira Junior, publicado no BNDES Setorial 50.

 

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