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Nota-se uma grande disparidade entre as regiões brasileiras na participação do crédito destinado a empresas. Como isso se aplica à Amazônia Legal e qual a razão dessa diferença?

 

Empresas e crédito

 

Operações de crédito e instituições bancárias desenvolvidas são as principais características das economias modernas. Sem crédito, a necessidade de capital das empresas para compra de insumos e/ou contratação de trabalhadores torna-se um obstáculo ao processo produtivo. A oferta de bens e serviços fica mais rígida, com capacidade reduzida de reagir às oscilações de curto prazo da demanda.

 

A ausência de crédito limita também a realização de investimentos lucrativos por parte das empresas, como no aumento de sua capacidade produtiva, afetando o crescimento da economia como um todo.

 

Um olhar regional para o mercado de crédito

 

O crédito para as empresas no Brasil está bastante concentrado nas regiões Sul e Sudeste. como mostra o gráfico a seguir. Isso está associado em parte à concentração da atividade econômica nessas regiões, mas não somente.

 

 

Analisando a relação entre a participação dessas regiões no crédito empresarial e no produto interno bruto (PIB), verifica-se que elas apresentam um maior volume de crédito por unidade de PIB, ou seja, são regiões mais intensivas em crédito.

 

Essas diferenças podem ser explicadas por algumas características regionais que se reforçam mutuamente, como a existência de empresas com maior grau de accountability, de um setor bancário e de um mercado de crédito mais desenvolvidos, de maior presença de atividades econômicas intensivas em crédito e de menores taxas de inadimplência.

 

O crédito na Amazônia Legal

 

A Amazônia Legal engloba nove estados brasileiros pertencentes à bacia Amazônica. Além de parte do território do Maranhão, a região é composta pela totalidade do Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins.  

 

A tabela a seguir mostra as principais estatísticas relacionadas ao saldo de operações de crédito para empresas nos estados da Amazônia Legal:

 

 

Observa-se que o mercado de crédito às empresas da Amazônia Legal (equivalente a 6,5% do total do país) está dividido da seguinte forma: os estados da região Norte representam conjuntamente R$ 43,9 bilhões (3,0% do Brasil); o Mato Grosso corresponde a R$ 38,8 bilhões (2,7% do Brasil); e o Maranhão a R$ 10,7 bilhões (0,7% do Brasil). Dentre os estados da região Norte, os maiores mercados são o Pará (1,1% do Brasil) e o Amazonas (0,8% do Brasil).

 

Em termos de aprofundamento do mercado de crédito, à exceção do Mato Grosso, todos os estados apresentam relações entre crédito às empresas e PIB inferiores à nacional.  Maranhão, Amazonas, Pará e Rondônia têm uma relação muito baixa, que fica entre 40% e 50% da vigente no Brasil. Roraima e Tocantins situam-se entre 55% e 70%, e Acre e Amapá entre 75%-90%.

 

Participação das micro e pequenas empresas no crédito na Amazônia Legal

 

Olhando apenas para o crédito às micro e pequenas empresas (MPE), a participação da Amazônia Legal no mercado de crédito nacional aumenta – correspondendo a 8,9%. Os estados do Mato Grosso e do Pará representam mais da metade do volume total, com participações de 3,2% e 1,7% respectivamente.

 

Em relação ao aprofundamento do mercado de crédito às MPEs, todos os estados da Amazônia Legal (exceto Amapá) têm resultado nesse indicador superior ao de crédito para empresas em geral, o que sugere que a região possui maior concentração de MPEs que o restante do país. No entanto, apenas Mato Grosso, Rondônia, Tocantins e Acre registram uma relação crédito a MPEs-PIB superior ou igual à do Brasil, enquanto os demais estados apresentam resultados que correspondem a menos de 85% do nacional.

 

A análise do mercado de crédito da Amazônia Legal evidencia que o Mato Grosso é uma economia discrepante na região, com intensidade de crédito bastante elevada para empresas em geral e para MPEs. Nos demais estados, embora a participação no mercado de crédito a MPEs possa ser mais relevante, como é o caso de Tocantins e Rondônia, ainda há bastante espaço para o desenvolvimento do crédito a empresas.

 

Expansão do crédito na pandemia e perspectivas para o mercado da Amazônia Legal

 

Vale notar que, em 2020, comparando-se os meses de fevereiro e dezembro, houve crescimento de 23,3% (nominal) no crédito a pessoas jurídicas no Brasil. Esse aumento, embora atrelado às medidas de combate aos efeitos da pandemia, ocorreu principalmente nas regiões Norte (29,6%) e Sul (31%). Já na região da Amazônia Legal, o incremento foi de 25,9%, com variação especificamente relevante no estado do Amazonas, de 42,4%.

 

Por fim, à luz do que foi dito anteriormente, fica claro que o mercado de crédito em alguns estados da Amazônia Legal ainda se mostra bastante incipiente. Estudos são necessários para se verificar as causas do baixo desenvolvimento desse mercado na região e para o desenho de políticas públicas de fomento adequadas. Um mercado de crédito funcional é fundamental para a expansão das economias locais e para a redução das desigualdades regionais que ainda se mostram excessivas na realidade do país.

 

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