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BNDES - Agência de Notícias

02:35 10 de October de 2024

Blog do Desenvolvimento

Por: Antonio Marcos Hoelz Ambrozio, Filipe Lage de Souza, Luciano Machado e Sergio Guimarães Ferreira

17:00 28/05/2019

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Inovar é preciso: situação atual, desafios e perspectivas da inovação no Brasil

A inovação é elemento fundamental para melhorar o posicionamento competitivo das empresas. Contribui para o aumento da eficiência na produção, geração de novos produtos e criação de empregos qualificados, tornando assim as empresas mais competitivas e gerando valor econômico e social para a economia.

 

Apesar da importância do tema, o Brasil ainda tem muito a fazer para melhorar sua capacidade inovativa. O país ocupa a 64ª posição, entre 126 países avaliados, no ranking do  Índice Global de Inovação (IGI) de 2018 (elaborado pela Universidade Cornell, o Insead e a Organização Mundial da Propriedade Intelectual). Não temos uma posição de destaque nem mesmo quando consideramos o aspecto regional, uma vez que na América Latina estamos quase 20 posições atrás do Chile (47º colocado).

 

Vale observar que a posição brasileira está longe de ser homogênea nos diversos quesitos que compõe o IGI. Do lado positivo, na dimensão de Sofisticação Empresarial, o Brasil ocupa posição relativamente melhor do que nos demais componentes do índice (38ª). Por outro lado, no quesito Ambiente de Negócios, nossa posição deixa bastante a desejar, particularmente no que diz respeito ao indicador Facilidade para Abrir uma Empresa (123ª).

 

A leitura geral do IGI sugere que nosso grande desafio é melhorar a relação entre esforço e resultado em termos agregados. Ainda que o índice mostre que ocupamos a 28ª posição no quesito gastos em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), não temos uma posição de destaque nas dimensões que podem ser entendidas como resultado do esforço de pesquisa, como Produtos de Conhecimento e Tecnologia (64ª) e Produtos Criativos (78ª).

 

A análise de dados da Pintec (Pesquisa de Inovação, aplicada pelo IBGE) reforçam a impressão causada pela leitura do IGI. Pode-se observar que houve um aumento do percentual de firmas que receberam apoio do Governo Federal ao longo do tempo, mas esse apoio não se traduziu em um incremento da inovação na mesma proporção. Com efeito, 14,5% das firmas industriais brasileiras receberam apoio governamental para suas inovações em 2014, comparado a 6,4% em 2005. Esse aumento, contudo, não se traduziu em elevação substancial da taxa de inovação (medida pelo percentual de firmas industriais que inovaram em processos ou produtos) que cresceu 33,4% para 36,4% no mesmo período.

 

Empresas brasileiras que se destacam em inovação

 

Diante da importância da inovação para o crescimento sustentável e competitivo da economia, esse tem sido um tema prioritário para o BNDES dentro da sua missão de promoção do desenvolvimento brasileiro. Nesse sentido, a mais recente iniciativa do Banco foi a organização de uma sessão voltada especificamente ao tema dentro da programação do 31º Fórum Nacional do Instituto Nacional de Altos Estudos (Inae), realizado nos dias 9 e 10 de maio, no BNDES.

 

Idealizada pelo presidente Joaquim Levy e organizada pela equipe do Departamento de Pesquisa Econômica do BNDES, a sessão contou com a participação de autoridades públicas, de um conjunto selecionado de empreendedores brasileiros altamente inovadores e de participantes da cadeia de fomento à inovação.

 

A abertura teve a participação do presidente da Finep, General Waldemar Barroso, e do secretário-executivo adjunto do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), Carlos Baptistucci, além do próprio presidente do Banco.

 

No segundo bloco, representantes da Sunew e da Raízen apresentaram casos de sucesso empresarial relacionados a tecnologias disruptivas – respectivamente, paineis fotovoltaicos e etanol de segunda geração – e palestrantes da Embraer, Alliage e Agrosmart contaram como suas empresas vêm se firmando em segmentos altamente dinâmicos. Por fim, o fundador da aceleradora de negócios 21212 e representantes do BNDES e da Finep falaram sobre ecossistema de inovação, abordando em especial a experiência das aceleradoras e questões como formação de capital humano, tutoria, créditos subvencionados e mercado de capitais.

 

A principal impressão deixada pelo evento foi quanto à pujança de um setor empresarial moderno existente na economia brasileira. A experiência de firmas que se tornaram líderes de mercado, em segmentos de alta tecnologia como células fotovoltaicas, biocombustíveis, aeronáutica, equipamentos odontológicos e softwares de monitoramento agrícola, permitiu visualizar concretamente o bom desempenho brasileiro no quesito Sofisticação Empresarial do IGI.

 

Para além dos ganhos de mercado obtidos por essas empresas, destacou-se também o potencial de suas conquistas no futuro. A possibilidade de desenvolver um ecossistema tecnológico capaz de viabilizar a mobilidade aérea urbana ou de promover um aumento substancial da participação de energia renovável na matriz energética nacional são alguns exemplos. A combinação entre inovação tecnológica e sustentabilidade ambiental esteve presente em todos os casos apresentados e foi destacada pelos palestrantes como possível base para a construção de planejamento de longo prazo voltado à inserção do Brasil no mercado mundial.   

 

Quais são os principais obstáculos à inovação no país?

 

Os casos apresentados no Fórum não deixaram de lado os desafios enfrentados para se inovar de modo bem-sucedido no país, em particular no que diz respeito à necessidade políticas públicas direcionadas a isso. Além de mencionarem a falta de visão de longo prazo como obstáculo para que o Brasil possa competir em um mundo globalizado, os participantes destacaram duas barreiras que parecem ser ainda bastante relevantes para a inovação: mão-de-obra qualificada e apoio financeiro.[1]

 

A escassez de capital humano especializado foi uma questão apontada por diversos palestrantes – o que parece condizente com a posição do país (79ª) no quesito Porcentagem de Graduados em Ciência e Engenharia do IGI. As propostas de política pública sugeridas para lidar com esse problema envolveram desde uma redefinição da estratégia educacional, com foco em ensino online, mas sem prescindir de espaços físicos comuns para possibilitar a troca de ideias, até a atuação do governo no estímulo à divulgação do trabalho de agentes inovadores bem-sucedidos que possam induzir o gosto pela inovação nos jovens. Uma sugestão particularmente interessante foi reforçar os programas de bolsa no exterior em disciplinas técnicas, o que permitiria aos participantes não só acumular conhecimentos objetivos como também uma visão de mundo mais ampla.

 

Uma política pública de apoio adequado à inovação parece ser crítica. De fato, boa parte dos empresários presentes no Fórum, hoje líderes em seus segmentos, contaram com suporte do governo na fase inicial do seu negócio, seja na forma de subvenção (Finep) ou de acesso a crédito (BNDES). O Brasil ocupa atualmente a 88ª posição no indicador Facilidade de Obtenção de Crédito do IGI, o que mostra que ainda há espaço para uma atuação do Banco no tema, seja por meio de empréstimos diretos ou, indiretamente, pelo aporte de recursos em fundos de capital semente (p. ex. Criatec). Esses recursos públicos, entretanto, devem ser prioritariamente dirigidos para segmentos em que o mercado privado tem dificuldade de atuar, como pesquisa básica e nichos de mercado com elevado impacto social.

 

O financiamento adequado para o processo de inovação também deve envolver mudanças no arcabouço regulatório. Um exemplo diz respeito à questão de limited liability: atualmente, os investidores estão sujeitos a um grau de incerteza jurídica tal que, em caso de insolvência, eles podem vir a ser responsabilizados por um montante de dívida superior ao aporte de suas cotas, o que inibe o apetite por aplicações em startups. Outro ponto citado é que haveria uma tendência das grandes firmas de tecnologia se destacarem como financiadoras, uma vez que elas dispõem de grandes bases de informação sobre seus clientes. Em ambos os casos há potencial de grande aumento na disponibilidade de recursos disponíveis, desde que realizadas as necessárias alterações regulatórias.

 

Competição como fator de indução da inovação

 

Discutiu-se também na sessão a validade atual do conceito de “vale da morte” –  período crítico inicial da vida das empresas, após o qual elas estariam aptas a entrar em uma fase de crescimento. Com efeito, em um ambiente altamente competitivo uma empresa corre o risco de encontrar uma rival que a desloque do mercado a qualquer instante. Logo, seria essencial contar com instrumentos de funding para apoiar um processo de inovação continuada nas empresas. Mais especificamente, entendendo-se a inovação como um processo de tentativa e erro, as empresas que inovam têm alta probabilidade de se deparar com resultados adversos e, por isso, necessitam de instrumentos financeiros com características singulares, como, por exemplo, maior tolerância com a possibilidade de falência.

 

Entre os fatores capazes de induzir a inovação, o tema da competição foi citado pelos participantes como crucial – em todas as fases de desenvolvimento da empresa. O caso relatado por uma empresa do ramo de odontologia, que se enquadra na narrativa típica de substituição de importações, mostrou que, em última instância, a pressão competitiva parece ter sido o fator determinante para o sucesso.  A companhia foi cumulativamente substituindo produtos até que, diante da recente competição chinesa no setor, teve que migrar para nichos de maior valor agregado. Com isso, seu foco de atuação teve que mudar de produtos no ramo de metal/mecânica para o desenvolvimento de softwares de geração de imagens utilizados no tratamento odontológico.

 

A proeminência da competição como fonte de incentivo para inovar não significa que estratégias colaborativas sejam irrelevantes. Muitos dos palestrantes enfatizaram que a formação de parcerias entre agentes é fundamental, seja entre empresas e universidades, ou mesmo o compartilhamento de esforços de pesquisa entre grupos de empresas, em nível nacional ou internacional (“a inovação não conhece fronteiras”). Para isso, uma proposta foi a elaboração de uma estratégia de longo prazo para a coordenação de esforços inovativos, estruturando comitês técnicos que sejam independentes dos governos.

 

De uma forma geral, é possível elencar avanços na inovação brasileira, especialmente de iniciativas ligadas ao desenvolvimento sustentável em setores nos quais o Brasil já apresenta avanços tecnológicos. No entanto, é possível fazer mais. Há ainda obstáculos que limitam a capacidade inovativa das empresas brasileiras, especialmente financeiros e de mão-de-obra. Por último, torna-se necessário facilitar a entrada de novas firmas no mercado, visto que competição é uma vertente importante para elevar a capacidade inovativa das firmas brasileiras.

 

[1] Essa constatação é evidenciada por uma agenda de pesquisa liderada pelo BID sobre barreiras à inovação nos países do Cone Sul (Brasil, Argentina, Uruguai e Chile). Segundo o estudo baseado em dados brasileiros, as barreiras financeiras e de conhecimento (inclui escassez de mão-de-obra especializada) inibem as firmas brasileiras de inovar na mesma proporção, para maiores detalhes ver Cânedo-Pinheiro, M., Lage de Sousa, F. e Barcelos, V. (2019). Barriers to Innovation in the Brazilian Economy - Impacts and Lessons for Public Policy. IDB Discussion Paper (a ser publicado).

 

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