Aviso: Utilizamos dados pessoais, cookies e tecnologias semelhantes de acordo com nossos Termos de Uso e Política de Privacidade. Ao continuar navegando, você concorda com estas condições.

BNDES - Agência de Notícias

Thu Apr 25 18:32:26 CEST 2024 Thu Apr 25 18:32:26 CEST 2024

Blog do Desenvolvimento

11:00 12/03/2021

Artigo |
Indústria |
COVID-19 |
Inovação |

5 perguntas sobre reconversão industrial

O que é reconversão industrial e como ela vem sendo realizada durante a pandemia?

 

A reconversão industrial é um processo de adaptação da estrutura produtiva visando à fabricação de bens diferentes daqueles originalmente previstos. Em resumo, trata-se da modificação de máquinas, equipamentos e processos já existentes em uma fábrica para produção de novas mercadorias. Durante a pandemia vimos fábricas de automóveis reconvertendo suas linhas produtivas para manufatura de respiradores artificiais, por exemplo, assim como produtores de perfumes e bebidas alcoólicas convertendo-se à fabricação de álcool em gel. Podemos destacar também que esse foi um fenômeno ocorrido em diversos países, com maior ou menor grau de sucesso, no sentido de prover os bens necessários durante a fase inicial da pandemia, enquanto fabricantes de bens e insumos ajustavam sua capacidade produtiva.

 

Quais os obstáculos para a reconversão industrial no Brasil?

 

A reconversão industrial pressupõe certa capacitação em termos de maquinário, insumos e conhecimento do processo produtivo, já que, a depender do bem que se deseja produzir, pode ser necessário algum aprendizado. Qualquer um desses fatores pode se mostrar um obstáculo difícil a ser superado. Na experiência recente da Covid-19, por exemplo, houve dificuldades relacionadas aos três aspectos mencionados, mas destacou-se a falta de insumos necessários à produção de respiradores artificiais. Algumas peças necessárias ao bom funcionamento desses equipamentos não eram produzidas no Brasil, e não foi possível nacionalizá-las dentro do prazo necessário, exatamente em função da falta de capacitação técnica e material para tanto.

 

Pode citar um exemplo de sucesso internacional e um no Brasil?

 

Em primeiro lugar, vale mencionar que as experiências podem envolver apenas uma empresa ou um conjunto de empresas (que podem ser de diferentes setores), assim como parcerias com universidades e instituições de pesquisa. Na França, Air Liquide, PSA e Valeo foram mobilizadas para produzir dez mil ventiladores, enquanto a LVMH, conhecida por seus perfumes e bebidas, passou a produzir álcool em gel. Na Inglaterra, destacou-se o Ventilator Challenge UK, um consórcio de diversos atores voltado à produção de ventiladores mecânicos. Na Itália, a Gucci passou a fabricar máscaras e camisas para profissionais da saúde. Aqui no Brasil, muitas empresas da indústria metal-mecânica se mobilizaram para produzir respiradores artificiais e equipamentos de proteção individual (EPI). Um dos exemplos mais bem sucedidos é o da WEG, que criou uma linha especial para a produção dos respiradores e atingiu um nível de nacionalização dos equipamentos de aproximadamente 70%, tendo fornecido grande quantidade deles ao Sistema Único de Saúde (SUS).

Vale ressaltar que no caso brasileiro, do ponto de vista produtivo, houve uma articulação mais ou menos autônoma de empresas cujas atividades eram próximas daquelas necessárias à produção de EPIs e de respiradores artificiais. Diversas entidades representativas dos setores tiveram papel de conectar projetos e companhias, assim como o Governo Federal e alguns governos estaduais e municipais. Esse processo se caracterizou essencialmente como uma iniciativa voluntária liderada pelo setor privado.

 

A reconversão industrial ajudou na superação crise da indústria decorrente da pandemia (queda de demanda + necessidade de distanciamento social)?

 

A reconversão industrial para produção de bens voltados ao enfrentamento da Covid-19 sem dúvida teve efeito benéfico para os níveis de utilização da capacidade produtiva, que estavam bastante deprimidos no início da pandemia. A desorganização geral das cadeias de valor e da demanda colocaram muitas empresas em um compasso de espera problemático. Então,  a dedicação de equipes e capital à produção de um bem cuja necessidade era premente ajudou a evitar problemas mais graves do ponto de vista do fluxo financeiro. Não obstante, é preciso apontar que essa ajuda foi relativamente limitada, mobilizando bem menos capital e trabalhadores do que ocorreria em um mesmo período de fluxo normal de negócios.

 

Há lições a serem aprendidas?

 

A lição geral é que a base industrial de um país é absolutamente relevante para a superação de dificuldades das mais diversas naturezas. Depender da importação de bens que são estratégicos para o funcionamento da própria economia e cujo preço pode ser proibitivo em momentos de crise é uma armadilha. Nesse sentido, vemos um movimento em muitos países ocidentais de retomada da política industrial e da defesa de setores estratégicos.

 

Entrevista com os economistas Rafael Palma Mungioli, Luiz Daniel Willcox e Gabriel Daudt, da Área de Indústria, Serviços e Comércio Exterior do BNDES.  

 

Saiba mais no artigo Políticas Econômicas de enfrentamento da Covid-19 – da conjuntura global ao (o)caso da indústria brasileira, publicado no BNDES Setorial 52.

 

Nossos Entrevistados

 

Gabriel Marino Daudt Gabriel M. Daudt - Economista do BNDES

Luiz Daniel Willcox Luiz Daniel Willcox  - Economista do BNDES

Rafael Palma Mungioli Rafael P. Mungioli - Economista do BNDES

 

Conteúdos relacionados

 

O efeito das crises sobre a indústria de transformação brasileira

 

Vacinas, testes e medicamentos: pesquisa e inovação no combate à pandemia

 

Conheça os temas do desenvolvimento abordados na nova edição da Revista do BNDES 

*campo obrigatório